Caxias é terra de festa popular

Neste dia da Baixada, a gente brinca com o sofisticado letreiro na Baía de Guanabara para afirmar que Caxias, além de terra de mulher bonita, também é terra de festa popular. Longe de uma perspectiva histórica – e cabe pedir passagem aos historiadores e crias da Baixada, como: Marlucia Souza, Eliana Laurentino, Amália Dias, Nielson Bezerra, Tânia Amaro -, essa conversa vem em ritmo comemorativo ao Dia da Baixada e aos 15 anos da Revista Lurdinha para lembrar que “Caxias é a capital cultural do Brasil”, como diz o mestre heraldo hb por aí.
Entre andarilhagens, diásporas, migrações e fluxos de toda ordem, nossa cidade se insere num chão que se reedita permanentemente. Como nos lembra o quilombola Nêgo Bispo, que já teve andanças nesse lugar: é preciso alimentar a trajetória. O que chamamos hoje de cidade, pode ser nomeado por aldeia, sambaqui, quilombo, terreiro, favela, distrito, igreja, escola, sindicato, bar, feira… Tantos espaços que significamos – a depender da relação – como formadores ou estimuladores do nosso vínculo com a terra, ou melhor, com a água Baixada Fluminense.
Num tempo que faz curva, diferente do nosso papo, a formação cultural brasileira se deu em cima de um calendário eurocatólico (Natal, Carnaval, São João, etc), a partir das intervenções das múltiplas formas culturais indígenas e africanas, como bem interpreta a intelectual, ativista e festeira Lélia Gonzalez (1935-1994) em seu livro Festas Populares no Brasil.
Essa forma cultural brasileira fundamenta os festejos populares, que são manifestações vivas na/da Baixada. Em Caxias, de onde nos cabe falar, temos diversas festas populares que são permanentemente reinterpretadas numa condição de disputa pela identidade da própria cidade. Aqui, levanto só três tipos pra gente já se ligar que o buraco é muito mais embaixo e só não curte a cidade quem não quer.
- As festas de igreja, que se instauram no catolicismo popular e estão espalhadas por todo o Brasil, como Círio de Nazaré em Belém-PA, Senhor do Bonfim em Salvador-BA, Nossa Senhora da Penha no Rio de Janeiro-RJ, etc. Esse é o festejo que o povo tece vínculos de intimidade profunda com o santo de devoção, cada um à sua maneira de sacralizar e profanar. Nossas festas de igreja mais populares aqui em Caxias são de Nossa Senhora do Pilar, padroeira da Diocese de Duque de Caxias e de Santo Antônio, padroeiro da cidade de Duque de Caxias. A festa pra Antônio e seus simpatizantes é tamanha que, além de feriado municipal em 13 de junho, virou patrimônio cultural imaterial do Estado do Rio de Janeiro pela Lei nº 10.713 de 27 de março de 2025.
- As festas natalinas, que se organizam entre a véspera Natal e o Dia de Reis, que numa encruzilhada festeira vai se alongando até 20 de janeiro (Dia de São Sebastião) ou até quando a folia quiser. Na cultura popular elas se sagram como pastoris, reisados, folias e cheganças. Em Caxias, assim como em todo estado do Rio de Janeiro, é forte a presença das Folias de Reis. Temos a Folia de Reis Reisado Flor do Oriente, que começou num núcleo rural em Minas Gerais e que há várias décadas é radicada em Caxias, totalizando mais de 150 anos; além da Folia de Reis Reisado Flor de Primavera que mantém seu legado na cidade. Vale lembrar que o calendário duquecaxiense também guarda a data de 25 de março para celebrar o Dia Municipal do Folião de Reis, através da Lei n° 2621 de 07 de abril 2014.
- As festas de carnaval também ocupam um espaço significativo no cotidiano da cidade há muitos anos. Como um festejo que se estabelece oficialmente sete domingos antes do domingo de páscoa, o carnaval existe na ritualização da vida a partir comunidades negras na diáspora. Em Caxias, pouco se fala sobre escola de samba nas primeiras décadas do século passado, junto a formação social das escolas de samba no Rio de Janeiro, mas não podemos esquecer (e a Lurdinha não permite isso) que lá pras bandas da década de 30 já tinha escola de samba nessa cidade que pintava e bordava. Aqui cito só duas das quase centenárias, que pra mim são fundamentais para entender as festas em Caxias: União do Centenário e a Cartolinhas de Caxias. Há pouco mais de três décadas, temos a tricolor caxiense Acadêmicos do Grande Rio, que ocupa um lugar de relevância indiscutível no cenário atual das escolas de samba do estado. Já os blocos carnavalescos e culturais, assumem uma das faces das festas de carnaval na cidade, que também possuem sua marcada historicidade e potência, destaco: Bloco do China, Império do Gramacho e Império da Leopoldina. E os blocos culturais de rua: Bloco Cultural Lira de Ouro, Plante uma Muda e Alegria do Centenário.
Longe de ser tudo de festa popular que temos, mas perto de lembrar que a Lurdinha há 15 anos vem afirmando isso tudo e muito mais nessa brincadeira que é só pra quem tem estômago forte!
Parada obrigatória pra quem tá de bobeira sobre as festas populares de Caxias:
As Folias de Reis estão aí firmes e fortes!
https://lurdinha.org/site/as-folias-de-reis-estao-ai-firmes-e-fortes/
Dia 25 de março – Dia Municipal do Folião de Reis
https://lurdinha.org/site/dia-25-de-marco-dia-municipal-do-foliao-de-reis/
Escolas de samba em Caxias, por Nei Lopes
https://lurdinha.org/site/escolas-de-samba-em-caxias-por-nei-lopes/
O SANTO PADROEIRO
https://lurdinha.org/site/o-santo-padroeiro/
Bate-papo musical sobre a Cartolinhas de Caxias
https://lurdinha.org/site/bate-papo-musical-sobre-a-cartolinhas-de-caxias/
Um pouco sobre o Carnaval de 1934 em Caxias
https://lurdinha.org/site/um-pouco-sobre-o-carnaval-de-1934-em-caxias/
Escola de Samba União do Centenário em 1936
https://lurdinha.org/site/escola-de-samba-uniao-do-centenario-em-1936/
Raquel Trindade e o elo perdido caxiense
https://lurdinha.org/site/raquel-trindade-e-o-elo-perdido-caxiense/
Atividades culturais marcam 50 anos do Bloco do China
https://lurdinha.org/site/atividades-culturais-marcam-50-anos-do-bloco-do-china/
Texto lindo! Bom ver escritores talentosos ganhando espaço.