Pitacolândia: por vergonha e por mau cheiro…
A notícia de que o lixão de Jardim Gramacho será desativado muito brevemente tem colocado no ventilador uma cacetada de questões delicadas e constrangedoras envolvendo as gestões públicas das cidades do Estado, a cultura capitalista do descartável, a tosquice da classe política e os desafios da humanidade na resposta ao que fazer com aquilo que é lixo e o que é “considerado” lixo.
A discussão é oportuna, urgente e bombástica, indo muito além dos discursos fáceis, das soluções superficiais e da visão estreita dos políticos e tecnocratas.
O Jardim Gramacho sempre foi nesses quarenta anos um dos modelos mais bem acabados da tragédia social do país – e da vergonha de Caxias em ser o lixão da cidade maravilhosa. Primeiro porque quem conhece de dentro a situação sabe que as relações entre política e crime são muito entrelaçadas e promíscuas, principalmente nas épocas de eleição.
Segundo porque os catadores de lixo são uma classe invisibilizada ao extremo, mas que nos últimos anos tem se organizado nacionalmente, forçando o poder público de todas as esferas a pensar soluções que levem em consideração o fator humano e as implicações políticas e econômicas da “questão do lixo”.
Recentemente, o documentário Lixo Extraordinário, ambientado no Jardim Gramacho e focando os trabalhadores da coleta do lixo, foi destaque em Hollywood, na disputa do Oscar, trazendo um foco de luz mundial para a problemática. Como definiu brilhantemente um amigo comentando o episódio: “Caxias vai ao Oscar com o cu à mostra”. Lixões existem em todo o país, mas não é coincidência que um dos mais famosos e monstruosos seja justamente aqui na cidade do PIBzão e do IDHzinho, e justamente às margens da tão decantada Baía de Guanabara… Afinal, são décadas de lixão, orçamento municipal astronômico e descaso. Décadas.
Mas agora que o fim do dito Aterro se aproxima, a questão põe a nu o impasse do lixo, principalmente seu descarte, lançando desafios a toda sociedade, e principalmente a quem é pago com impostos para dialogar com a sociedade na busca de soluções.
Se bem que as questões técnicas e filosóficas sobre o lixo são algo perto do inalcançável quando se constata que mesma a simples coleta urbana é sofrível. Há mais de seis meses que Caxias convive com micro-lixões em cada bairro, em cenas lamentáveis. E se for alongar mais o assunto entra em Locanty, Delta, e por aí vai.
Na verdade, o que precisamos urgente é de reciclagem – reciclagem de políticos. Até porque a maioria que aí está é como o lixão do Jardim Gramacho: faz mal e já deveria ter sido desativada há muito tempo, por vergonha e mau cheiro.
Com certeza já passou o tempo de uma reciclagem na politica de todo o Brasil. Mas por enquanto comecemos por Caxias. Otimo Texto!
Muito bom texto HB! Valeu!