aulas de boxe na mangueirinha

aulas de boxe na mangueirinha

Do boxe surgido no Egito Antigo, 3000 anos a.C, nas festividades do Faraó, para a popularidade adquirida por ele na Grécia Antiga e enfim as competições atuais por cinturões e medalhas Olímpicas, o caminho foi longo e diz muito sobre o esporte e as sociedades. Com toda essa carga evolutiva é natural que o boxe ganhe atributos ainda maiores na vida de quem os pratica com o avanço do tempo, por isso vale todas as menções possíveis a seguir sobre o boxe além do ringue.
Procuro me situar a partir do Projeto Esportivo Léo Taí que se desenvolve na favela da Mangueirinha, em Duque de Caxias. Além do boxe que é ministrado pelo treinador Vítor Luís, mais conhecido como Pirica, a prática de outras atividades como Capoeira e Dança também são desenvolvidas lá. Neste projeto conversei com o treinador Pirica que entrou no boxe aos 14 anos de idade e tem 21 anos na modalidade, ele falou de toda sua caminhada dentro do mundo do boxe, como dificuldade de acesso no esporte, o que mostra como a questão financeira é um dos fatores que funcionam como barreira para manutenção de projetos sociais.
O treinador tem uma relação muito amigável com Hiago Rodrigues, que é um de seus alunos no projeto, o que lembra bastante a relação entre Adonis Creed e Rocky Balboa do filme Creed da saga Rocky Balboa e Creed. Tanto treinador como aluno começaram cedo no esporte; Hiago até deixou o futebol de lado para se dedicar totalmente ao boxe e ambos hoje tem a modalidade como parte importante de suas vidas. O motivo de escolha de qualquer esporte é bem pessoal, o sonho de fazer história como o pugilista Robson Conceição (primeiro campeão Olímpico brasileiro da história do Boxe) ou o lendário Floyd Mayweather que fez história ao se aposentar invicto na sua carreira, pode ser um deles, até porque todo mundo sonha com o ápice de suas carreiras, porém necessariamente vencer não significa somente o ápice financeiro, como o mundo capitalista tenta colocar goela abaixo em toda nossa construção social. Boxeadores como Muhammad Ali e Rubin Carter usaram de outros meios que consequentemente os tornaram ícones no Boxe. Além é claro de serem ótimos pugilistas em seus períodos, um usou de sua fama para ganhar mais vozes e aderir a causa antirracista, inspirado por Malcom X durante o período de Segregação racial, o outro se tornou o símbolo da liberdade (hurricane), após passar 20 anos de sua vida preso injustamente. Posteriormente conseguindo provar sua inocência, o mesmo decidiu se tornar ativista na causa por presos que foram presos injustamente.
Mohammad e Carter se mostraram lendas pelo pensamento coletivo e para mim Pirica e Hiago também se tornaram ícones, inspiração em cada treino deles e em seus modos de enxergar a vida, entendendo que sucesso no boxe não é somente financeiro, apesar de obviamente grana ser bastante importante em nossas vidas. Mas no fim de tudo, para a gente da favela, é sobre superar cada dia de nossas vidas. Sobre ser um bom pai, sobre influenciar outras pessoas a seguirem o caminho certo na vida, como diria o MC Marechal, “quer ser o melhor, vai ser o melhor para sua comunidade“, e da forma de cada um ganhar mais vozes.
Para terminar deixo um trecho da fala do filme Rocky Balboa, Rocky para seu filho, mostrando o porquê de nós da favela sermos inspirações para nós mesmos mostrando que o boxe é para além do ringue:

Eu vou dizer uma coisa que você já sabe. O mundo não é um grande arco-íris. É um lugar sujo, é um lugar cruel, que não quer saber o quanto você é durão, vai botar você de joelhos e você vai ficar de joelhos para sempre se você deixar. Você, eu, ninguém vai bater tão duro como a vida, mas não se trata de bater duro, se trata de quanto você aguenta apanhar e seguir em frente, o quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando, é assim que se consegue vencer. Agora se você sabe o seu valor, então vá atrás do que você merece, mas tem que ter disposição para apanhar...“.


Pedro Vinícius Lobo Gomes

Morador da favela da Mangueirinha, vascaíno e integrante do Movimenta Caxias e do pré-vestibular comunitário +Nós 

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1 thought on “O Boxe para além do ringue

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