Valeu por tudo, Mestre Vagninho
Partiu meu querido amigo, Vagner Lima dos Anjos, o Mestre Vagninho. Notícia triste demais.
E aí é voltemeia essa sensação incômoda da injustiça da vida, um monte de arrombado filhadaputa mal caráter que já era pra ter morrido e não morre e aí um cara bom como Vagninho morre assim tão novo. Puxado isso.
Além do enorme talento, um dos caras mais bons de onda que já conheci. De uma família que tenho grande afeto, onde fui recebido como um parente lá atrás quando eu era ainda um moleque perdidão na vida. Uma negrada que me ensinou tanto que nunca vou conseguir retribuir. Família do meu irmão Marivaldo Sales, saudade da porra, da querida Mariza, do Edilson, da Dona Edith, de Seu Edvaldo Baianinho.
E Vagninho sempre lá, de botuca nos ensaios das nossas várias bandas malucas, atento, um cara muito maneiro desde criança, divertido, doce, uma alma dessas raras.
E desde criança metido em baterias de escolas de samba, raiz profunda familiar, conhecia tudo. Era apaixonado principalmente pela caixa e várias vezes dava aula pra gente: “essa é a caixa da Ilha, essa é do Salgueiro, essa viradinha é da Mocidade, a Mangueira toca assim…”. Admirava o Mestre Odilon, mas sempre lembrava que um dia quando moleque, Odilon jogou uma baqueta nele. Nunca esqueceu, mas falava disso sem mágoa, rindo, e era o oposto disso quando regia.
Em 2011, quando assumiu a bateria da Lira, a galera da velha guarda não levava fé nenhuma no bloco porque Vagninho incluiu todo mundo. A Lira de Ouro era frequentada por uma galera super diversa nos vários eventos e ele chamou geral pra tocar: a galera do rock da cidade, a galera do Mate Com Angu, poetas do Sarau, vários doidões que frequentavam o espaço, vários malucos tatuados, fora do ritmo, fora do universo do samba. “Fica tranquilo que todo mundo tem ritmo, deixa comigo”. E a bateria da Lira sempre fazia bonito, com o bpm lá em cima, mas com cadência de malandro. Uma pegada que vejo muito no Mestre Fafá, da Grande Rio. Fez vários “perebas” virarem ritmistas no Carnaval.
Nos últimos anos por conta de problemas de saúde se afastou do samba e das atividades de bateria, mas todas as vezes em que nos encontramos sempre era a mesma alegria, como se o seu sorriso e seu olhar cativante nos convocasse a sentir a harmonia da música em nossas vidas.
Uma honra ter convivido com Mestre Vagninho nesse plano. Que retorne na Luz ao Mistério inicial de onde tudo provém.