As leis 10.639/03 e 11.645/08, Reestruturação Curricular e o racismo declarado no Município de Duque de Caxias: O que Joãozinho da Gomeia escancara nesse contexto?
As leis 10.639/03 e 11.645/08, Reestruturação Curricular e o racismo declarado no Município de Duque de Caxias: O que Joãozinho da Gomeia escancara nesse contexto?
Tratando-se da esfera de poder municipal, dentro de um contexto nacional, Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, avança a passos largos ao longo de quatro anos de governo Washington Reis na pauta neoliberal e teocrática. É possível perceber uma forte tendência ao retrocesso civilizatório na cidade, desconsiderando inclusive a cor e ascendência e/ou descendência étnica da população caxiense – majoritariamente negra e indígena.
Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que – dentro do quantitativo populacional e conforme dados baseados em autodeclaração dos indivíduos – Mais de 63% dos munícipes são negros, sendo 49,1% autodeclarados pardos, 14,4% autodeclarados pretos e 0,001% indígenas. Duque de Caxias é majoritariamente um território negro e indígena.
E se tratando de Duque de Caxias, em especial inserido num país onde o racismo se apresenta de forma estrutural e sistêmica, é possível afirmar que o racismo opera inclusive dentro das instituições de poder. Não podemos negar nesse panorama que o atual governo e toda a ideologia fundamentalista neopentecostal estabelecem mais uma vez um projeto que reforça o apagamento e silenciamento do povo negro e indígena.
A não efetivação das leis 10.639/03 e 11.645/08 nas escolas do município de Duque de Caxias reforçam mais uma vez o quanto ainda temos que avançar para desconstruir essa educação hegemônica, eurocêntrica e desigual apresentada pela secretaria de educação ao longo de vários governos e nesse em particular. Esse descaso com as leis revela o teor racista e colonial de corpos e mentes de negros e indígenas através de toda história da educação brasileira. É importante salientar que a falta de projetos que deem continuidade na formação dos educadores da rede para uma educação voltada para as Relações Étnico-Raciais e para a real implementação das referidas leis constitui um entrave para a defesa de uma educação antirracista da qual não podemos desconsiderar toda a trajetória do movimento negro e indígena que nos fez chegar até aqui. Movimentos estes que elaboraram em 2003 e 2008 leis de reparação histórica por séculos de escravização e colonização, entre outras conquistas no âmbito de políticas públicas voltadas para as populações oprimidas e ditas minoritárias.
Na mesma linha antidemocrática, hierarquizada, hegemônica e eurocentrada segue o processo de reestruturação curricular no município em que educadores antirracistas precisam tensionar para que seja pensado um currículo que de fato dê voz e protagonismo aos alunos da rede pública de ensino de Duque de Caxias. E pensar nesse currículo verdadeiramente democrático é pensar em referenciais teóricos que defendam uma pedagogia decolonial e uma educação antirracista. A reestruturação curricular é vendida pela SME como democrática, mas como seria democrática se tiramos do processo vozes que precisam ser ouvidas? Como seria democrática se desconsidero a cor da escola pública? Como seria democrática se mais uma vez nega-se de forma explícita a inclusão das referidas leis como prioridade? Como seria democrática sendo debatida e apresentada virtualmente? Como seria democrática negando a estrutura física e pedagógica oferecida para esses alunos? Como seria democrática sucateando a escola pública? Como seria democrática tirando direitos e atrasando salários de educadores?
E nesse processo de apagamento e silenciamento histórico, epistêmico, cultural, político e social, Joãozinho da Gomeia escancara para o Brasil inteiro o que anda acontecendo nesse município. Com toda potência ancestral e histórica, ele grita aos quatro cantos o que a maioria se nega a admitir: o caráter racista da gestão Washington Reis. Gomeia é um território histórico, cultural, político, social e religioso, portanto faz parte da história do município, do Brasil e do mundo. Quando tratamos das referidas leis, reforçamos toda herança africana, afro-brasileira e indígena e esse crime praticado pelo gestor da cidade, afeta diretamente a identidade dos munícipes, dos alunos da escola pública e de toda comunidade escolar. Desapropriar o terreno do Terreiro da Gomeia revela a face criminosa e cruel de desapropriação da história de um povo.
O conflito gerado ao escolher uma creche no local sagrado é uma tática eleitoreira de colocar mães trabalhadoras contra a própria história e reconhecimento identitário e isso não é aleatório quando se tem como base valores fundamentalistas, racistas e colonizadores.
Estamos passando por um processo de apropriação das nossas próprias narrativas e protagonismo, isto é, movimento negro e indígena em constante e histórico posicionamento, luta e construção.
Joãozinho da Gomeia em pleno 2020 reforça a necessidade de uma educação antirracista e da luta de todos e todas para derrotar essa política escravocrata e colonizadora. Ele ratifica a importância da efetivação das leis 10.639/03 e 11.645/08 nas escolas. Seu território ancestral, histórico e cultural reivindica que as vozes silenciadas sejam ouvidas e que de fato nossas crianças e jovens sejam senhores e senhoras de si com a real liberdade. Por uma educação antirracista, emancipatória e decolonial!
Adriana Santana – Membra do EKÓ- Coletivo de Educadorxs Negrxs e Indígenas de Duque de Caxias.
Parabens Adriana ,n esperava outras palvras tao bem colocadas e claras para nos elucidar de tamanha covardia com nosso municipio e cultura ,obrigada por nós empoderar com sua resenha ,vc é uma pessoa linda !!! Parabéns minh irmã, muito aşeeee 🍀😍🌺🌻🦋👏👏👏🎶🎶
Adriana como sempre nos emponderando com a tua escrita. Parabéns!
Escurecedor e fortalecedor . Parabéns a Adriana pelo texto e a Lurdinha pela divulgação … UBUNTU
Parabens Adriana ,n esperava outras palvras tao bem colocada e clara para nos elucidar de tamanha covardia com nosso municipio e cultura ,obrigada por nós empoderar com sua resenha ,vc é uma pessoa linda !!! Parabéns minh irmã, muito aşeeee 🍀😍🌺🌻🦋👏👏👏🎶🎶
Excelente texto, Adriana. Nos contempla enquanto educadorxs antirracistas e munícipes da nossa Duque de Caxias. Parabéns!!!