Estávamos no início de 1983 e o governo Brizola começava. Em todos os municípios fluminenses, incluindo a Capital, a euforia PDTista era grande. Afinal, o homem tinha sido eleito com uma votação tão expressiva, que nem as manobras engendradas pela Rede Globo conseguiram impedir sua vitória. É claro que as fraudes (muitas) acabaram influindo no resultado final do pleito, mas tudo o que os fraudadores conseguiram foi, no máximo, diminuir a vantagem de Brizola sobre seus adversários, sem contudo impor-lhe a derrota eleitoral que pretendiam.

Aqui em Caxias, nós éramos membros do Diretório Municipal do PDT.  O que chamo de nós era um grupo formado por Wilson Reis, Josué Cardoso, Antonio Barbosa de Vasconcellos, Luiz Carlos dos Prazeres, Cândida Helena Machado, Roberto da Costa, Ayrton Fonseca Almeida, Wilson Gonçalves, Mário Alves, Hermes Machado, Tininha Machado, Delton Peçanha, Nélio Menezes, Paulo Renato, Gloria Mendes e eu, além de um bando de gente, filiada ao partido ao longo de seus dois anos de existência, que se dividia em várias correntes.

Os dias seguintes à posse do Brizola foram de reuniões sucessivas, na sede do partido. A pretexto de discutir “estratégias de governo”, o que se discutia na verdade era a ocupação dos órgãos estaduais, com representação no município. Era um tal de “com quem vai ficar o Detran?” e/ou “eu só quero a direção da Codim”…  Teve até malandro correndo por fora, indo diretamente reivindicar o seu lugar ao sol, junto a seus supostos contatos na cúpula partidária. E as tais correntes, que já não se entendiam, passaram a brigar entre si, com alguns de seus integrantes chegando mesmo a sair na porrada uns com os outros. Verdadeira cafajestada.

Numa dessas reuniões – que se repetiram por várias semanas – Prazeres chegou acompanhado de um velho líder camponês, posseiro no Capivari, remanescente de um levante armado ocorrido naquela região, em 1963. Como todo bom homem do campo, o visitante permaneceu tão calado quanto atento a tudo o que via e ouvia. Ao fim do bate-boca acalorado, convidaram o lavrador a falar, e ele foi conciso:

– Bão, eu num sei falar essas palavra difícil que ocês usa, né? Eu sou da roça, criado na enxada, mas pelo o que eu pude apreciar de tudo isso, acho que socialista muito mais firme que alguns cumpanhero que tá aqui… Fidel Castro botô no paredão.

 

5/12/2009


1 thought on “O companheiro do Capivari

  1. velho Eldemar, quando eu entrevistei umas pessoas do capivari (antigo Km 45) e da Chácara Rio-petrópolis ouvi essa história… esse é um tema muito interessante que eu ainda pretendo me debruçar!!!!

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