Mestre J. Borges, eterno
Encantou-se hoje, aos 88 anos, o mestre J. Borges, poeta, pintor, cordelista, lenda absoluta da xilogravura brasileira.
Sempre fui apaixonado por gravura e ainda mais pela xilo. Muito porque a estética do cordel sempre permeou meu imaginário de família nordestina, esse imaginário que Seu J. Borges tanto encarnou. Mas também porque, não sabendo desenhar, sempre me impressionou essa coisa de botar o cérebro pra pensar o “desenho ao contrário”, essa relação figura-fundo mucho loka. Acho incrível isso.
Quando morei no Alojamento da UFRJ no Fundão, voltemeia tirava um tempinho pra andar pelos corredores largos da Escola de Belas Artes, visitar os ateliês, ver o ferramental de xilo, lito, metal e outras técnicas pra uso de gravura. E numa tarde dessas pude conhecer o grande Adir Botelho, encontro que me marcou profundamente na época. Grande professor Adir. Uns anos depois namorei uma menina, Rosana, que era craque na arte e eu ficava babando com os desenhos; e depois reencontrei um amigo, Carlos Rodrigues, da época do Alojamento, que até hoje faz umas gravuras de grande força poética.
Ainda tem que é uma alegria particular ver que aqui na minha jurisdição, a Baixada Fluminense, tem praticamente uma cena de gravura em atividade, incluindo trabalhos consistentes e criativos como a Xilopretura, da Val Pires; a Luana Xavier; a Matriz Coletiva; o projeto Xilocavuca, que aliás, é de Nova Iguaçu, terra do também imeeenso gravurista e cordelista J. Rodrigues. Além do trabalho sensível de linogravura de artistas ligados ao coletivo Eco Embaúba. Muita coisa boa pra conhecer aqui na Baixada, acredite.
É isso: a Cultura brasileira segue como sempre seguiu, viva e potente. Mesmo quando um mestre como Seu J. Borges se vai, a gente perde um pouco, claro, mas consola o fato de que por esse país a fora e a dentro a Arte não pára e nem vai parar.
Que siga na Luz, eterno J. Borges.
