Mais um domingo comum na sociedade capitalista brasileira

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Fui na Amoedo da Washington Luis atrás de um produto. Olhei, escolhi, peguei e me encaminhei para o caixa. No caminho um funcionário me abordou: “já foi atendido, senhor?”. Disse que já tinha pegado o que queria e continuei andando.
No caixa, a atendente me pergunta se eu tinha sido atendido por alguém. Foi aí que entendi, e disse: “não, mas de fato um rapaz me perguntou se eu já tinha sido atendido. Vocês ganham por comissão?”. E ela confirmou: “é, sim, comissão.”. E eu perguntei: “mas vocês têm salário, certo?”. E ela disse que sim, mas que a maior parte do salário é por meio de comissão.
Eis a esperteza de empresários como o Amoedo, que fundam um partido para disputar as eleições, e em caso de vitória, ferram ainda mais com os direitos trabalhistas. Colocam gente para trabalhar em pleno domingo, e enquanto eles enriquecem, os funcionários precisam se estapear em busca de clientes para ganhar um pouquinho a mais no final do mês. Ou talvez não precisem brigar, caso já exista uma ordem pré-estabelecida. No salão onde corto cabelo é assim, para cada cliente que chega, vai o barbeiro da vez. Mas assim como também acontece no salão, pode vir a acontecer em lugares que adotam esse modelo: o cliente assíduo escolhe um preferido e vai só nele.
Infelizmente minha pequena compra não gerou comissão para nenhum funcionário que estava lá trabalhando domingo. Só para o patrão mesmo. Então, que tal ao invés de pagar comissão individual, dar participação nos lucros para todos os funcionários?
Saindo da Amoedo, fui no Carrefour, ao lado, para comprar um café (que por sinal, continua caro). Chegando no caixa, a atendente me pergunta se quero sacola. Essa pergunta já virou automática. Tinha visto que o cliente que estava na minha frente pedira uma, e percebi na tela que o preço da sacola estava em 12 centavos! Quando a polêmica lei que proibiu a distribuição de sacolas em supermercados foi promulgada, a promessa era de que elas fossem vendidas por um preço “simbólico” de 5 centavos. Pois bem, já chegou a 12, mais que dobrou de preço. E tudo subiu junto. Inaceitável que o cliente tenha que ter mais essa despesa, visto que continua tudo caro no mercado. Tenho dificuldade em entender que um povo lutou por causa de 20 centavos no preço das passagens e não luta por causa de 12 centavos no preço das sacolas. Afinal, é uma lei que só serve para mercados (e para a casa de rações Amaral…). Ou as sacolas que a gente recebe sem pagar a mais por isso nas farmácias, sacolões, feiras livres, na Amoedo, ou até as que a gente compra por 12 centavos nos mercados não sujam o meio ambiente? Daí percebe-se que o real objetivo da lei não foi realmente dito. Então, como eu já estava com a sacola da Amoedo, falei com a atendente que não precisava.
Saindo do Carrefour, fui abastecer no posto de combustível que fica ali no próprio mercado. Hoje estava com uma fila imensa, atípica para um posto. Decerto ele tem fama de ter combustível de qualidade (e é o único que conheço que tem etanol aditivado em Duque de Caxias), mas creio que a lotação se dê mais porque as pessoas fazem compra e aproveitam logo para abastecerem ali, o que gera ainda mais lucro para a rede Carrefour (ou seja, precisava cobrar pelas sacolas?). Nesse posto você não paga diretamente ao frentista. Após o abastecimento, é dado um cartão onde o cliente efetua o pagamento mais a frente, perto da saída. São quatro caixas, mas apenas um, SOMENTE UM, possui uma funcionária. Os outros três são de autoatendimento. Portanto, onde era para quatro pessoas trabalharem, há apenas uma! Ou então, ao menos deveria ser ao contrário: três atendendo e um com autoatendimento. Eu sempre priorizo o que tem gente de verdade trabalhando, sejá nesse posto, seja nas cabines de estacionamento dos shoppings. Não gosto de auto atendimento, pra mim é sempre um emprego a menos (sem contar que é chato mesmo, é bom falar com pessoas de verdade).
Tem muita coisa que precisa ser revista nesse país, um grande desafio para o novo governo Lula (eu falei que o homem ia voltar). O governo sozinho não vai conseguir combater a fome e a desigualdade, promessas feitas em campanha. É preciso chamar esse empresariado à responsabilidade. Uma economia onde o dinheiro circule é boa para todo mundo no médio prazo, mesmo que num curto prazo o lucro do patrão seja menor.

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