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Ontem completaram quatro anos da passagem de Rogério Torres, um cara fenomenal, professor, historiador, escritor de ficção, fotógrafo, entre outras coisas. E um amigo querido de quem sinto saudade das conversas sempre inspiradoras e divertidas.
Tem uma frase poética do Fernando Pessoa que gosto muito e usei na abertura do meu segundo livro, O Cerol Fininho da Baixada: “todo começo é involuntário”. Ela se aplica muito nesse caso, porque Rogério tem uma ligação forte com nosso filme Amuleto, que estreou neste final de semana no Festival do Rio. Foi ele quem me falou algumas vezes entusiasticamente sobre Chico Santos – roteirista, argumentista de O Amuleto de Ogum, artista popular, contador de histórias, empreendedor nato, figura central em nosso filme. Durante várias vezes em que Chico Santos surgia em alguma conversa, Rogério sempre dizia que a gente tinha que entrevistá-lo. Até que um dia me ligou dizendo que o Menezes, o Velho Menezes, tinha encontrado o hômi e daí marcaram com ele no Instituto Histórico da cidade para uma entrevista, de um dia para o outro, e ele iria com sua camerazinha Digital-8.
Dos integrantes do Mate Com Angu da época, a maioria não conseguiu estar, mas Igor Barradas pôde e Manoel Mathias já trabalhava no Instituto Histórico. E aí junto com o Velho Menezes e o jornalista Alberto Marques, entrevistamos o lendário Chico Santos, com Rogério Torres na câmera, nessa que é a entrevista que hoje é a guia-mestra do nosso filme. Que já nascia ali, mesmo que a gente ainda não soubesse.
Uma curiosidade que pouca gente sabe: Rogério, além de professor dedicado, escritor profícuo e pesquisador admirável, também teve forte ligação com o audiovisual. Na década de 1960 fundou com Barbosa Leite e Armando Valente o grupo ARCO, Arte e Comunicação, com o qual fizeram exposições fotográficas, produziram filmes em 8mm e projetavam pela cidade – acervo que infelizmente se perdeu. Quando as câmeras começaram a se popularizar no VHS, Digital-8 e Mini-DV, ele também estava sempre filmando, antenado com o papel da tecnologia na preservação da memória. Visionário.
Publicou vários livros, três dos quais é possível baixar no nosso site da Lurdinha. Seu impacto nos estudos historiográficos da Baixada é imenso; o enorme acervo iconográfico que guardou e que produziu durante anos alimentou dezenas de estudos sobre a região. Impossível falar da memória da Baixada sem citar seu nome.
Profundo conhecedor da obra de Machado de Assis, vinha preparando um livro que prometia ser muito bom sobre o cara, numa perspectiva bastante original, em formato de cartas. Infelizmente, Rogério faleceu antes de concluir a obra.
Estou em um momento muito feliz com o lançamento e a repercussão do Amuleto e o filme tem com muito carinho Rogério na dedicatória, figura especial que está desde o início da ideia.
Rogério Torres, presente!


heraldo hb

heraldo hb

. Animador cultural, escritor e produtor audiovisual nascido no século XX. .

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