Hoje, 17 de abril se completam cinco anos do nosso Dia da Infâmia, um dos dias mais tristes que já vivi nessa vida, aquela tenebrosa sessão parlamentar aberta que sacramentou o golpe de 2016. Também fazem vinte e cinco anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, onde, nos rincões do Pará a polícia atirou deliberadamente em direção a trabalhadores sem-terra, desarmados, homens, mulheres, crianças, causando a morte de dezenove pessoas na hora, mais algumas alguns dias depois e deixando vários feridos. O episódio correu o mundo e chamou a atenção com mais ênfase para o maior câncer no nosso tecido social que é a concentração de terras.

São dois episódios que falam muito sobre o país e que não deixam passar impune a ideia de um lugar cordial e pacífico. O Brasil é um dos lugares mais violentos do mundo, mas é que o tapete sempre foi grande e a vassoura da grande mídia também.

Em 2016, cheguei a ficar uns meses adoentado, uma somatizada cruel diante das coisas que vi naquele dia no Congresso Nacional via rede nacional. Uma sessão comandada por um bandido, “um gângster”, como disse o deputado Glauber. As vísceras do país expostas ao mundo. Pela TV aberta assistimos na tela o real retrato do país dos coroneis, dos filhos dos coroneis, dos capitães do mato, de notórios milicianos e da bizarra e criminosa bancada que se diz evangélica. Capitanias hereditárias que mantém o poder a base de bala, corrupção, apropriação da coisa pública (res publica), concentração de terras e de renda.

E além de todos os detalhes macabros daquela sessão, o que fez mais mal foi ver o elogio público a um torturador da pior espécie de lixo humano, feito por um deputado que andava tendo holofotes demais. Nesse dia, além de todo o horror daquele espetáculo – tosco, machista, escravocrata, autoritário – foi triste ver que a menção à tortura foi naturalizada e até louvada por pessoas que conheço, incluindo conhecidos, parentes, pessoas próximas – e até alguns amigos. A MENÇÃO À TORTURA NATURALIZADA.

Não estaríamos na desgraça onde estamos hoje se naquele episódio o tal deputado tivesse saído preso daquela sessão. Não ter acontecido nada foi o disparo para toda a cadeia de acontecimentos, omissões, trairagens e conivências que levaram esse incapaz, corrupto, perverso e idiota, inacreditavelmente, a assumir a presidência da sexta economia do mundo. Vamos levar tempo pra superar essa catástrofe.

Mas por outro lado, hoje, 17 de abril, em memória às vítimas de Eldorado dos Carajás, também se comemora o Dia Mundial da Luta pela Terra e é um alento saber que pelo país a dentro tem muita gente lutando pela reforma agrária, pela comida saudável, pela soberania, pela justiça social e pela VIDA. Um salve especial a toda essa gente.

É isso. Se cuidem, pois vamos precisar de todo mundo, como diz a canção.

A luta é pra sempre.

[ heraldo hb – pitacolândia – abril de 2021 ]


heraldo hb

. Animador cultural, escritor e produtor audiovisual nascido no século XX. .

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