FOI-SE A LANCHONETE CENTRAL
Constato triste que a Lanchonete Central fechou e, ao que tudo indica, dará lugar a mais uma loja dessas que encharcam a região, aumentando ainda mais a estatística melancólica de bares fechados no centro da cidade.
Pelo que andei ouvindo parece que Seu Serafim encheu o saco e andava dizendo que só estava tendo prejuízo. Jamais saberei.
Mas o fato é que é mais um ponto de encontro que se vai, um lugar de respiro, um café ou uma cervejinha, em meio ao caos diário do calçadão e adjacências. Bar cheio de histórias também e voltemeia me lembro de uma foto famosa do mestre Barboza Leite onde aparece ao fundo um pedaço do letreiro que ficou aaanos ali.
Anteontem encontrei Zezinho à noite e perguntei “eaí? Vai pra onde?” e ouço sua resposta bem ao seu estilo: “a gente dá um jeito; se virar é nossa especialidade”. “E o Chaveirinho?”, aproveito e emendo. “Tá por aí”, responde. Zezinho e Chaveirinho são dois dos históricos atendentes lá , duas figuraças que são daquela amostragem incrível da presença forte da nordestinidade na cidade. Cada um a seu jeito, todo dia com eles ali era pra rir gostosamente, zoeiras infinitas naquele balcão véi de guerra. Que agora se foi.
Aos poucos, o centro de Caxias vai perdendo esses botecos que ajudaram a construir tantos laços de afetividade das pessoas com a cidade, que ajudaram a sedimentar tantas histórias. Desde o Elite, fechado há uns cinco anos até o Guimarães, fechado esse ano, passando pelo Bar do Mauro, pelo Paulinho, ali ao lado do River; por aquele ao lado da Biblioteca… Muitos.
Em 2014, escrevi com uns amigos um manifesto e um programa piloto pra uma série que não demos continuidade chamada Encouraçado Botequim, já antevendo esse fenômeno. Tristão ver que o negócio é sério mesmo.
A Praça do Relógio vai ficar mais árida, uma pena.
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[ heraldohb, dezembro de 23 ]
#croniquinhas