Sábado agora, dia 09 de dezembro, vai acontecer a XI Conferência Municipal de Cultura de Caxias e quero partilhar duas observações que julgo importante pra pensar um aspecto da Cultura nessa cidade cruel. É uma Conferência exclusiva para se escolher os membros da sociedade civil na próxima gestão, 2024/2025.
A primeira coisa é um fenômeno curioso do surgimento de candidatos ao Conselho que nunca apareceram em nenhuma etapa da construção de políticas públicas na área, processo que já vai aí tankando uns vinte anos pelo menos. Curioso porque pela primeira vez na História do país o setor começa a receber recursos de forma regular e aí, do nada, aparece um bonde na careta de pau. Parece um comentário com um grau de veneno hehe, não nego.
E nesse fenômeno tem dois lados pra se observar: um lado é que sem dúvida tem uma galera que surfa num oportunismo de ocasião, desculpem a franqueza, ou não desculpem, tudo bem.
Outro lado é reparar que alguns instituições tem uma visão bastante equivocada do processo, que relaciona estar no Conselho com estar em vínculo direto com as verbas para seu projeto, sem levar em consideração toda a gama de atividades e responsabilidades que um conselheiro tem. Editais como as leis emergenciais que tivemos e agora a Política Nacional Aldir Blanc são apenas algumas das coisas que envolvem a ação dos Conselhos.
Essa postura é uma demanda legítima? Sim, até é. Mas convenhamos que é empobrecer o debate a um nível triste. Como se depois de tanta luta por políticas públicas transparentes e democráticas essas instituições quisessem mesmo a velha, conhecida e lamentável política de balcão. ”Melhor ficar amiguinho do Governo pra ver se rola uma prata pro meu projeto…”. Já era tempo de sepultar esse pensamento, mas… A ver.
A outra consideração se dá no campo da política e vimos isso acontecer com força nas recentes eleições para os Conselhos Tutelares país a fora. Os partidos de direita e os segmentos fundamentalistas agiram organizadamente para garantir o aparelhamento dessas instituições, um modo de se entranhar ainda mais nas vísceras do Estado, aprofundando um processo de sequestro das pautas humanísticas. Como já se tentou sempre nos Conselhos de Saúde, Educação, da Criança e do Adolescente… Com a Cultura, talvez porque nunca tivesse dinheiro, esse processo sempre foi fraco, embora presente. Uma das últimas conferências aqui, por exemplo, o MBL chegou com um monte de gente num ônibus pra minar o Conselho elegendo seus cupinchas. Sorte do movimento que os caras além de maus-caracteres são burros pra caramba também. Saíram escorraçados do processo.
Ao que tudo indica, a Conferência desse sábado em Caxias terá um clima desses, haja vista as articulações de ônibus e lanches pra quem vai votar. Coisa comum num processo desse tipo, mas que já vimos nos mais variados graus de “garrafas contadas”, como se chama essa prática no jargão.
Fato é que temo pela qualidade da composição do próximo Conselho, justamente em um momento onde o campo cultural está se recompondo e semeando frutos que virão ao longo dos próximos anos no país.
A política pública de Cultura que temos lutado e conquistado é fruto de muita luta, de horas de reuniões maçantes, de dor nas costas, de produção de textos, manifestos, cartas, petições, mais reuniões, articulações mil, mais reuniões. Um processo de LUTA constante, muito além do umbigo das instituições e dos tacadores de pedra de plantão.
É preciso que os próximos conselheiros tenham em mente e em corpo que nós da Cultura temos adversários, coisa natural do processo de estar vivo; mas é preciso dizer que NÓS, DA CULTURA, TEMOS UM INIMIGO REAL HOJE QUE É A EXTREMA DIREITA. Extrema direita que no Brasil encarnou nos últimos anos nessa coisa fétida, nesse chorume chamado bolsonarismo. É dever nosso lutar contra essa canalhada perigosa. Nosso inimigo é esse brasil paralelo, por exemplo, projeto cheio de dinheiro que quer reescrever História com um negacionismo metódico e criminoso.
Quem é da Cultura não pode bater fofo com isso, não pode gaguejar. “Ah, mas vocês politizam tudo blablabla, nada a ver…”, porra, meu amigo, vai meter essa a essa altura do campeonato? O projeto que estava no poder tinha uma agenda que incluía nossa morte, seja por perseguição jurídica, seja por asfixiamento financeiro, passando por morte física mesmo, caso esse projeto fascista amparado pelas armas e milícias tivesse ganho a eleição.
Fica a dica: não vote em “em cima do muro” quando se trata de luta contra a extrema direita. Não vote em quem ainda está preso na velha política de balcão. São mais de vinte anos de luta por um Sistema Nacional de Cultura e não dá nem pra retroceder e nem começar tudo do zero.
Política Pública de Cultura não é só edital. Muita coisa pra lutar pelo nosso patrimônio, pelo orçamento de 1%, pela descentralização. É preciso conhecer o Plano Municipal de Cultura (pelo menos lê-lo já seria um adianto e tanto…). É preciso ter consciência de que a Cultura é o nosso verdadeiro pré-sal, aquilo que nos move e que pode de fato transformar esse país. E a Baixada é o uma das maiores potências dessa visão transformadora e Caxias é o filé disso.
Se você é caxiense e pensa em ir na Conferência votar, leve RG e comprovante de residência. Em minhas redes, tem umas sugestões bem boas de gente que entende essa missão aí.

[ heraldo hb – pitacolândia – dezembro de 2023 ]


heraldo hb

. Animador cultural, escritor e produtor audiovisual nascido no século XX. .

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1 thought on “REPARA NESSE CONSELHO

  1. EU ESTOU INDIGNADO OS CAPOEIRISTAS NÃO ESTAVAM COMEMORANDO A VIOLÊNCIA MAS APOIANDO EM MANIFESTAÇÃO DE RODA O ADIAMENTO DA CONFERÊNCIA QUE DESDE O INÍCIO PRESENCIAMOS DESORGANIZAÇÃO DA SECRETARIA DE CULTURA E ENVOLVIMENTO DE POLÍTICOS APOIANDO CHAPA ADVERSÁRIA…. LAMENTÁVEL E NOSSO REPÚDIO A FRAUDE RECORRENTE EM NOSSA CIDADE BEM DIANTE DOS NOSSOS OLHARES….

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