Cidade Minha
Caxias é passional
É uma cidade poética
Das costas dos morros
descem arroubos
de ilusão frenética
e as pessoas passeiam dores
pelas ruas à vontade
Dores esguias e amores de verdade,
porém travados, às vezes
Caxias tem uma alma estranha,
cultural, voraz, tacanha
Que se assenta na beira do absurdo
e atravessa os meses
sem reflexão
Caxias mistura olhares e sentimentos
É doce e amarga
Cruel e generosa
É uma moça triste
que ganha um presente,
fica toda prosa
e depois percebe que tudo é miragem.
O trem, os cantos, os anjos
Solano gritando na praça
a gente com fome
É tudo um tufão que explode e some
Deixando um rastro
de valas feiosas com cheiro de esgoto
Milhares de casas sem rosto
cadeiras vazias
e flores no chão
Caxias é um acúmulo de faces
manchadas, bonitas, sagradas
lançadas a esmo
na escuridão
Caxias é minha alma exposta
Uma crosta de sal na paixão dos meus dias
É pura poesia
É a marca maior que carrego
na palma da minha mão.
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Vicente Portella