Parte do Circuito Baixada Filma, a sessão Baixada Filma realizada pelo CineAgaó, no Centro de Artes Municipal Helio Oiticica, no dia 12 de Maio, contou com a curadoria da Facção Feminista Cineclube junta com uma colab de grupos e artistas mulheres da região: A produtora independente criada pela Diretora Carol VilamaroLaranja Vulcânica, a rede de Produtoras Culturais Roque Pense!, o Cineclube Xuxu ComXis e a Diretora Catu Rizo.

Os seis curtas exibidos, Alma Crespa, de Paulo China e Rebecca Joviano; Sobre Dormentes, estamos acordadas, da Facção Feminista Cineclube; Cineclubismo na BF, de Carol Vilamaro; Poesia Segunda Pele – O Filme, de Pamella Ohnitram; Arremate, de Ethel Oliveira; Frente dicasa, de Lais Dantas, e uma Videoperformance: Meio fio, de Enviada de Saturno, além do trailer do longa Com o Terceiro Olho na Terra da Profanação, de Catu Rizo, contam com mulheres na Direção, um desafio global que vem sendo encarado de frente pelas cineastas da Baixada Fluminense.

Além da sessão a exposição “BXD Filma Por Elas” abriu em construção, com textos, fotografias, objetos e cartazes de suas obras. Junto a Videoinstalação “Uma câmera na mão e Ser-tão mulher da Baixada na cabeça” – resultado de uma pesquisa artística de Catu Rizo, através da FAPERJ e com orientação da professora Nina Tedesco. Com abertura oficial dia 2 de Junho o público pode conferir as memórias dessas produções e a inédita Videoinstalação até Junho.

Com um protagonismo feminino materializado nesta ampla programação a sessão encerrou com um debate sobre as pautas do Manifesto A Baixada Filma, entre representantes dos grupos curadores, a convidada Luana Pinheiro, fundadora do Cineclube Buraco do Getulio e coordenadora de produção do Iguacine Festival de Cinema da Cidade de Nova Iguaçu, com mediação de Giordana Moreira, Produtora Cultural da Roque Pense!. Luana, que é também diretora do web programa Querendo Assunto, falou sobre a formação audiovisual na região e suas particularidades: “Em Austin fazíamos formação em cinema para jovens que nunca foram em um”, em sua atuação como Coordenadora da Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, um dos principais projetos de formação em audiovisual da região, descontinuado ao completar 10 anos de atuação. Luana também chamou a atenção para a importância do SESC para uma região que conta com pouquíssimas salas para exibição, assim como do urgente diálogo com instituições como a Ancine e a SAV sobre o Cinema nas periferias. O que ainda não foi feito com a Baixada Fluminense.

Representando a Facção Feminista e UERJ | FEBF a antropóloga Ana Ribeiro aprofunda a reflexão: “As desigualdades que incidem no território são sobre nossos corpos. Então não tem como falar de território sem falar de gênero e raça”. Citando pesquisas recentes como: a tese de doutorado de Renata Saavedra, “Redes, rodas e palcos das mulheres: produção cultural, arte urbana e feminismos no Rio de Janeiro” (Eco-Pós/UFRJ – 2018), a dissertação de mestrado de Luísa Antonitsch, “Mulheres, práticas de resistência cultural e ocupação simbólica: as flâneuses da Baixada” (PPGECC/FEBF,UERJ – 2018), a pesquisa de mestrado em andamento de Catu Rizo, “Deslocamentos e Movimentos com as Mulheres na Baixada Fluminense” (PPCULT/UFF – a ser defendida em 2018), e a pesquisa de doutorado em desenvolvimento na Inglaterra de Mary Delphine Freedman, “Collective Projections: exploring espaces of the feminine periphery through audiovisual production na digital ethnography” ( Queen’s University Belfast): “nenhuma destas pesquisas abre mão de falar de território e gênero. Existe um protagonismo politico destas mulheres articuladas em rede, é só ver as fichas técnicas aqui”.

A Jornalista e Diretora Carol Vilamaro, criadora da Laranja Vulcânica, e a Diretora Pamela Ohnitram, do Cineclube Xuxu Com Xis colocaram os entraves para realizadoras periféricas no acesso ao fomento público, como nos editais da Secretaria do Audiovisual|Ancine, onde as cotas para as mulheres e negros tem temática definida, que limita a liberdade criativa, e os mesmos critérios da grande indústria, partindo do porte das empresas e currículos. Isso em território popular vai contra a lógica e acaba por dificultar ainda mais a produção audiovisual: Não é inclusivo, disse Carol.

A existência, os processos de criação e realização das artistas, expostos nas trajetórias dos grupos e obras citadas durante o diálogo, espelharam a construção da memoria, das contra narrativas e dos sentidos de se fazer cinema neste território popular. A importância da memoria foi trazida por Catu, como a experiência de uma TV revolucionária, para além de periférica, da TV Maxambomba, e todas as multiplicidades da região que transcendem o estigma na produção artística atual. Com um longa lançado e uma videoinstalação que parte de uma pesquisa sobre as mulheres da Baixada, a Diretora parte das paisagens culturais da região para construir sua obra. E para dar conta desta potencia incluímos na pauta o direito ao fazer cinema com recursos, como disse Catu:  “Porque um edital de curta-metragem para a periferia o valor é de 25 mil, se normalmente eles são de 45 mil?

Neste encontro um dos maiores Pólos de produção audiovisual brasileiro, a Baixada Fluminense, se apresentou como uma potencia concreta que não pode ser descontinuada. Um território generificado que expande sua primavera feminista e rediscute as politicas publicas e seu fazer cinema a partir da diversidade.

Acompanhe o Circuito em https://goo.gl/RMsWPz

 

 

 


Giordana Moreira

Produtora Cultural, fundadora da Roque Pense! rede de Mulheres Produtoras Culturais, e cria da Baixada Fluminense de onde faz rock, cultura urbana e feminismos para o mundo.

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