Baixada afetiva
Sou nascida e criada em Nova Iguaçu. Hoje em dia meu maior trânsito é Caxias-Nova Iguaçu-Jardim Aymore, quando atravesso tres cidades pela Via Dutra, para estar com minha família todo domingo. É lindo ver a serra em um trecho da Dutra antes da antiga Ortobom. Dá pra ver o cemitério e a igreja de Mesquita, onde se apontam os prédios da área nobre de New Iguaçu. A Via Light cortando tudo. Eu desço no posto 13, para ver o antigo hotel abandonado que virou uma obra de arte urbana, peça valiosa do pixo fluminense.
Quando vou pelo centro desço de cara para a serra, tentando ver o Cruzeiro, lugar de muitas vistas e histórias da juventude. Da pra ver o terreno que foi do meu avô no morro, agora com uma casa de dois andares. Foi aqui no Centro, na primeira pista pública de skate da América Latina, que eu me encontrei com o underground. E foi nela que realizei o primeiro festival de rock feminista dessas bandas. Posso contar, nos muros da Praça dos Direitos Humanos, as histórias entorno a cada graffiti que produzi, como o primeiro da Maria da Penha, na ocasião do segundo encontro fluminense de grafiteiras. Foi daqui que, no Partido dos Trabalhadores, andei por toda a cidade para eleger um operário presidente. Trabalhei na Casa de Cultura, local histórico da época dos laranjais, que volto tantas vezes para fazer cultura. Quando subo o viaduto novo, indo pro Aymore, a vista da Serra com a cidade a seus pés e a pedreira desativada me encantam. Se não fossem as queimadas teríamos uma mata. A parte mais escura da pedreira foi a primeira a ser desativada. Ali tinha um precipício, com a vista incrível da Baixada que embalou muitos amores. Na volta a noite a passagem pelo viaduto é uma experiência diferente do dia. A área da pedreira é um escuro só, destacando o shopping. Mas as luzes dos prédios que não param de subir e esconder a serra, me fazem pensar como esta cidade é linda e rica, cheia de histórias de amor.
Essas histórias ainda não são conhecidas pelo povo que nunca foi, mas ouviu falar.