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A direita neofascista não se cansa de pedir a volta da ditadura militar. Como hoje é aniversário do golpe, desde ontem eles estão bem mais saidinhos do que já são, normalmente. Não faltou mesmo quem evocasse o clima de “felicidade” que vivíamos à época, postando foto do general Carrascazu Médici, com legenda parafraseando Ataulfo Alves, no samba Tempos de Criança: “Éramos felizes e não sabíamos”.
Sim, éramos muito felizes. Havia uma censura pesada sobre os órgãos de comunicação, que não nos permitia saber de nada do que estava acontecendo. E o que estava acontecendo? Uma repressão sangrenta, que prendia, arrebentava e matava quem pensasse diferente do regime.
Pairava um clima de terror no ar, que levava cada cidadão a desconfiar que cada cidadão fosse um agente do SNI, doido pra pegá-lo numa palavra que o comprometesse, perante os militares.
E a corrupção, que grassava solta sem ter quem a denunciasse? A ponte Rio – Niterói foi superfaturada em vários milhões de dólares, assim como a Transamazônica, que ligava o nada a lugar algum, e jamais ficou pronta. Só essas duas obras ajudaram a elevar a dívida externa a patamares impagáveis. Ah, como éramos felizes!
Foi durante esse tempo, que surgiu o FGTS, acabando com a estabilidade no emprego; que surgiu o BNH, uma espécie de agiotagem, que levou muitos mutuários “inadimplentes” ao suicídio; que começou o desmonte da educação superior pública, pra dar lugar a universidades privadas, quase todas fundadas por generais; que esculhambaram a Previdência Social, juntando tudo sob a sigla deletéria de INPS; que se promoveu a degradação da saúde pública, para obrigar todo mundo a recorrer aos planos de saúde, sendo o primeiro deles o Golden Cross, que, por mera coincidência, também tinha à sua frente um general.
É verdade, éramos muito felizes sem poder discutir essas aberrações, porque era proibido. Éramos felizes e não sabíamos, já que os órgãos de comunicação não podiam noticiar nada disso.
Ô felicidade!


Eldemar de Souza, em Um Bacurau Voando no Crepúsculo.


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