A vida como ela era – A Educação (ou seria educassão?)

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Dizem que antigamente a escola era risonha e franca, eu não peguei essa época. Só conheci a escola bisonha e fraca do meu tempo e a escola tristonha e tosca de agora.

Tristonha porque se chora muito e não apenas pelas notas. Professores choram porque traficantes mandam mais, muito mais, do que diretores, dirigentes em geral ou Secretários de educação. E mandam mesmo, não se trata de sentido figurado.

Se um professor insistir muito para que um aluno frequente as aulas, não chegue atrasado ou que preste atenção na matéria, corre risco de vida. Tem aluno que já nem usa mais caderno, basta um AR15 pendurado no ombro para garantir sua aprovação com louvor.

Os puristas consideram uma irresponsabilidade o professor permitir a aprovação de um aluno desta maneira, sobre coação, mas as famílias geralmente apreciam a atitude que mantém nossos mestres respirando.

Não são apenas os professores que choram, infelizmente. Nossa escola também leva às lágrimas boa parte dos pais de alunos. A criança passa 3 ou 4 anos em sala de aula e ainda escreve gato com J e saudades com C, isso quando escreve alguma coisa. Há casos em que os pais comemoram a semi alfabetização como se fosse um gol do Brasil, pois filhos anteriores nem isso conseguiram extrair do ensino básico. Por isso os pais choram. Inclusive, em muitos casos, os pais dos traficantes.

A coisa, no entanto, não para por aí, pois a sociedade também chora. Os orçamentos públicos para Educação ou são ínfimos, o que produz uma parte importante da tragédia educacional, ou são generosos, porém, tem seus recursos completamente desviados para outras atividades, se é que podemos chamar essa coisa horrorosa perpetrada por governantes de atividade. Nesse caso a sociedade chora dia a dia, mês a mês, ano a ano… Chora a cada imposto que paga e a cada verba de merenda desviada. Por isso a escola é tristonha.

Além de tudo isso, como se fosse pouco, a escola é também tosca. A concepção educacional brasileira é grosseira tanto do ponto de vista pedagógico quanto do ponto de vista operacional. A criança, aliás, é tratada mais como refém do que como principal razão de ser daquela estrutura.

Por conta da abrangência da rede escolar, que faz com que a escola tenha que estar em todos os cantos, a coisa virou um baita aparelho político partidário. Os governos fazem o possível para mediocrizar sua estrutura e as oposições, achando pouco, levam esta mediocrização ao extremo.

Antigamente, no entanto, dizem, as coisas eram diferentes. As crianças aprendiam Língua portuguesa, Literatura, Matemática e Ciências. Hoje elas aprendem que nós foi ou nós vai é tão correto quanto nós fomos ou nós iremos. Ao invés de Graciliano ou Veríssimo (Seja Érico ou Luiz Fernando) aprendem letras de funk, algum troço sertanejo ou pagode.

As vidas secas foram substituídas pelas molhadas tchutchucas.

Em matemática poderiam pelo menos ensinar percentuais propinatórios, tão em voga no Brasil de hoje, mas não o fazem.

Os números bóiam livres na vastidão cerebral da garotada.

Quanto às ciências, acho que caíram em desuso. Algum “pedragogo” (Pedagogo com cérebro de pedra) governista deve ter decretado a inutilidade da mesma.
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Vicente Portella


Vicente Portella

Nascido em Duque de Caxias, é escritor, compositor e poeta. E tricolor.

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