Mestre Moura na área

Primeiro sábado do mês na cidade é dia da roda do Mestre Levi, no centro, na Praça do Relógio. Vou dar um rolé pra desopilar e resolvo passar por lá pra dar uma bisolhada, curtir um pouco da onda mansa, tranquila, serena, do Mestre. E aí eis que vejo vadiando lá, na desenvoltura e elegância de sempre, o grande Mestre Moura, figuraça da qual sou fã. Depois de jogar com todo mundo da roda, esbanjando sua ginga, o mestre me vê e me dá um abraço carinhoso, “vamo beber uma pra brindar a vida?” e aí não tem como… Paramos ali na “bunda do Raul”, o frango assado da ex-Praça do Pacificador, e botamos os assuntos em dia.
Em muitos anos, é a primeira vez que consigo fotografá-lo, com sua permissão. Pra quem já tentou fotografar entidade sabe que não é simples hehe.
Mestre Moura é certamente umas das maiores personificações da malandragem na região. Presença enraizada, cria das ruas, conhecedor de segredos e mandingas ancestrais. E no meio da conversa, papo vai, papo vem, várias histórias da malandragem, da capoeira dos anos de porrada, de mestres que seguraram a onda da capoeira de rua, bastidores da Roda Livre de Caxias, roda que tem cinquenta e três anos de existência. Aventuras pela noite, incluindo histórias com figuras como meu mestre Angolinha e como o recém falecido Mestre Peixe, a quem brindamos com lágrimas nos olhos. Lembrou até do Muca, de quem fui contemporâneo na animação cultural em CIEPs, cara sensacional que infelizmente morreu cedo demais.
Mestre Moura também é reconhecido como grande versador de partido alto e também pela primeira vez me deixou gravar improvisos seus. Em algumas horas fizemos umas três músicas juntos e ele mandou versos e versos na noite caxiense que registrei no celular. Olha a responsa…
Chego em casa já agulhado pra dormir, mas antes sento pra escrever essas linhas na intenção de partilhar essa grande alegria. Me sinto abençoado de conhecer essas pessoas, confesso.
Muito se fala por aí, e há muitos anos, que a cidade aqui é um celeiro de Cultura do país, opinião da qual dou signatário convicto, e um dos motivos é certamente ter figuras incríveis como o Mestre Moura na área.
Iê, viva meu Mestre, camará, e dindindin lá vai viola.
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[ #croniquinhas, heraldohb, 2025 ]