50 anos do grande saque em Duque de Caxias

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No último dia 05 de julho deveriam ser lembrados os 50 anos do Grande Saque de 1962. As gerações mais novas talvez não conheçam esta passagem da história que deixou profundas marcas na história da cidade. Não imaginam que nos arredores da Praças do Relógio e do Pacificador um aglomerado de aproximadamente 20.000 pessoas, entre domésticas, operários, balconistas e outros profissionais, que esperavam o trem, tenham iniciado um quebra-quebra seguido de saques que se espalhou por outros bairros e outras cidades da Baixada Fluminense.

Entre os motivos do saque podemos destacar a toda pressão sofrida pelo governo parlamentaristas imposto e que impedia a posse de João Goulart, a inflação altíssima, o impedimento de San Tiago Dantas de ocupar o Ministério do Trabalho, a Greve Geral que paralisou os trens e o boicote feito pelos comerciantes que fez sumir das prateleiras o arroz, o macarrão, o feijão, os enlatados, o açúcar e outros gêneros. Após uma semana de revolta popular vários estabelecimentos, principalmente os que pertenciam a estrangeiros, foram invadidos e seus produtos apropriados pela população. Conta-se que só foram preservados os que tinham uma bandeira do Brasil.

A delegacia de Duque de Caxias, sediada na Rodovia Rio-Petrópolis, atual Presidente Kennedy, contava com apenas quatro policiais para conter a multidão. Sentido-se incapacitados convocaram o III Batalhão de Carros de Combate que enviou quarenta homens. Também não foi suficiente. Somente uma tropa do exército conseguiu controlar a situação tendo como mair preocupação preservar a fábrica de açúcar, localizada na entrada do centenário, área hoje ocupada pelo Prezunic.

Após reunião dos comerciantes locais com Carvalho Janotti, governador do Estado do Rio de Janeiro, é que se tomou algumas medidas que marcaram a cidade até dos dias atuais: em 1963, um ano após o saque, foi criado o 6 Batalhão de Polícia Militar, atual 15 Batalhão, permitiu-se a criação de segurança particulares, chamados pela Revista Fatos e Fotos de “Corpo de Milicianos”, e a transformação da cidade em Área de Segurança Nacional.

Esta revolta popular foi analisada de forma muito competente por Newton Meneses e Rogério Torres no livro Sonegação, Fome e Saque e por Marlucia Santos de Souza. Chamada também de “Motim da Fome” pelos jornais da época em que a memória política, que é muito curta, está sendo novamente testada vale ressaltar a iniciativa de um grupo de cineastas duquecaxiense em produzir um filme sobre este evento.

 

Sonegação, Fome e Saque

 

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Alexandre Marques

Alexandre Marques é professor de História. Contato: alxmarques@ig.com.br

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