Um pouco de história sobre a estação ferroviária de Caxias
Post publicado no importante blog Estações Ferroviárias do Brasil , contendo fotos históricas da estação de Caxias e ainda um relato muito bacana do grande professor Guilherme Peres 🙂
O blog, que é mantido por Eduardo P. Moreira, carece um pouco de design, mas é um site importante para quem pesquisa o assunto trem no país. Recomendo.
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DUQUE DE CAXIAS (antiga MERITI e CAXIAS)
Município de Duque de Caxias, RJ
Linha do Norte – km 19,176 (1960) RJ-1937
Altitude: 5 m Inauguração: 23.04.1886
Uso atual: estação de trens metropolitanos com trilhos
Data de construção do prédio atual: 1970
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HISTÓRICO DA LINHA: A linha que unia o centro do Rio de Janeiro a Petrópolis e Três Rios foi construída por empresas diferentes em tempos diferentes. Uma pequena parte dela é a mais antiga do Brasil, construída pelo Barão de Mauá em 1854 e que unia o porto de Mauá (Guia de Pacobaíba) à estação de Raiz da Serra (Vila Inhomerim). O trecho entre esta última e a estação de Piabetá foi incorporada pela E. F. Príncipe do Grão Pará, que construiu o prolongamento até Petrópolis e Areal entre os anos de 1883 e 1886. Finalmente a estação de Areal foi unida à de Três Rios em 1900, já pela Leopoldina. Finalmente, o trecho entre o a estação de São Francisco Xavier, na Central do Brasil, e Piabetá foi entregue entre 1886 e 1888 pela chamada E. F. Norte, que neste último ano foi comprada pela R. J. Northern Railway. Finalmente, em 1890, a linha toda passou para o controle da Leopoldina. Em 1926 a linha foi estendida finalmente até a estação de Barão de Mauá, aberta nesse ano, eliminando-se a baldeação em São Francisco Xavier. O trecho entre Vila Inhomerim e Três Rios foi suprimido em 5 de novembro de 1964. Segue operando para trens metropolitanos todo o trecho entre o centro do Rio de Janeiro e Vila Inhomirim.
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A ESTAÇÃO: “A 28 de fevereiro de 1884 iniciou-se o trabalho para assentamento dos trilhos, o que levaria dois anos, até sua chegada em Meriti, em 23 de abril de 1886. Partindo da sua estação inicial em São Francisco Xavier, seguia em direção às outras: Triagem, Bonsucesso, Penha e Meriti. Os outros pontos do percurso eram simples paradas: Benfica, Amorim, Ramos, Olaria, Brás de Pina, Cordovil e Vigário Geral. Antes de 1897, quatro trens trafegavam diariamente, na única linha que até então existia, com desvios: em Bonsucesso, Penha e na Parada de Lucas. Em Meriti, as obras da construção da ferrovia exigiram extensos aterros, dificultando a drenagem de uma região pantanosa, onde florescia a taboa, fonte de renda de uma população escassa que se limitava a extraí-la para confecção de esteira e lenha para fabricação de carvão, transportando-os para a capital, aproveitando o deslocamento rápido da nova ferrovia. Os trabalhos continuaram com a extensão da ferrovia até o entroncamento da sua linha em Vila Inhomerim, principal tronco para a subida da serra em conjunto com a Companhia Estrada de Ferro Príncipe do Grão Pará, que partia do Porto de Mauá até sua chegada em Petrópolis. Em 1911, já funcionavam as estações de Gramacho, São Bento, Campos Elíseos, Primavera, Saracuruna e Parada Angélica. O nome de Merity continuava denominando a estação local, apesar da população passar a chamar-lhe Duque de Caxias, por haver sido descoberto nesta região o local de nascimento do herói nacional, localizado na fazenda São Paulo, bairro da Taquara, e seu novo nome ter sido oficializado. Liderado pelo Dr. Manoel Reis, influente político em Iguassú, município ao qual pertencia Merity, foi feito em 1932 um abaixo-assinado ao então interventor do estado Dr. Plínio Casado, pedindo a troca das tabuletas da antiga estação. O Correio de Iguassú, vanguardeiro das grandes causas, assim registrou o evento no dia 22 de maio de 1932. ‘Apesar de oficializada a nova designação, o nome de Merity continuava no alto da Estação local, causando a mais justa estranheza’. Procurando corrigir essa verdadeira anomalia, o Sr. Jayme Fischer Gambôa entrou em entendimento com os diretores da Companhia, não lhe sendo difícil conseguir aquiescência imediata para a mudança da referida tabuleta. O jubilo do povo ‘Ao meio-dia de domingo, chegava a Caxias o Sr. Interventor do município, ali aguardado pelos Srs. Horacio Soares, muito digno inspetor geral do tráfego da Leopoldina Railway, o Sr. Jaime Fischer Gambôa, representando o Dr. Manoel Reis, muitas senhoras, e senhoritas, representantes do povo e pessoas gradas’. Uma girândola de morteiros atroou ao ar à chegada do Dr. Arruda, fazendo ouvir a banda de música caxiense. Ao ser descoberta a nova tabuleta com o nome de Caxias, tomou a palavra o Sr. Jayme Fischer Gambôa, que produziu o seguinte discurso, sendo aplaudidíssimo: ‘Meus senhores: Reunidos nesta pequena festividade, os habitantes de Caxias vêm prestar seu preito de gratidão à Companhia Leopoldina, pela maneira gentil porque atendeu a solicitação para mudança da antiga denominação de nossa estação. Não somos dos que não cultuam o respeito às tradições, e se solicitamos a mudança que hoje se efetiva, não tivemos em mira diminuir o passado desta localidade, porém prestar uma homenagem a um grande vulto de nossa história e bem assim conseguirmos a harmonia entre a denominação dada pelos poderes públicos e o conhecimento pelo povo do novo nome de nossa ex-Merity’. Após a inauguração das tabuletas, os convidados dirigiram-se para o Cartório do Sr. Jayme Fischer Gambôa onde foram servidos chopp e sanduíches. Fizeram ainda uso da palavra o capitalista residente em Caxias e um acadêmico de quem não soubemos o nome. Ambos demoraram-se em justos elogios à administração do Dr. Arruda Negreiros, detalhando as suas principais obras. Também a figura sugestiva do Sr. Jayme, a quem se devia a vitória daquele dia, mereceu os mais entusiásticos encômios por parte dos oradores. As guirlandas Caxias engalanou-se como nunca. Bandeirinhas multicoloridas drapejavam por todos os recantos, numa alegria de algumas aves ensaiarem o vôo para as alturas azuladas e distantes. Eram já as últimas horas da tarde quando os convidados se retiraram, depois de renovados abraços ao valoroso Jayme por mais aquele triunfo que vinha de alcançar de dedicado amigo de Caxias” (Guilherme Peres, pesquisador e membro do IPAHB).
A estação de Duque de Caxias ainda hoje funciona para os trens suburbanos. Em 1970, foi inaugurado o prédio da nova estação juntamente com o trecho eletrificado entre a estação de Pedro II e Duque de Caxias. Em 2009, foi reformada: ganhando um “mergulhão” (passagem subterrânea para pedestres, com vários serviços de utilidade pública disponíveis), além de uma grande passarela coberta, com comércio em suas instalações. Duque de Caxias foi estação de trens de subúrbio praticamente desde sua inauguração, mas não se sabe realmente quando isto passou a ocorrer (enquanto houve trens para Petrópolis, era também parada obrigatória do Rio-Petrópolis). E foi terminal dos subúrbios até 1935, quando o trajeto destes trens foi esticado até Raiz da Serra (Vila Inhomirim), mais precisamente em 21 de abril desse ano, de acordo com o jornal A Noite do dia seguinte.
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Fontes usadas: Rafael Asquini; J. E. Buzelin; Eduardo P. Moreira; Guilherme Peres; Anuário das Estradas de Ferro; revista Refesa; A Noite, 1935; Edmundo Siqueira: Resumo Histórico da Leopoldina Railway, 1938; Cyro Pessoa Jr.: Estudo Descritivo das Estradas de Ferro do Brasil, 1886; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Guias Levi, 1932-80; Mapa – acervo R. M. Giesbrecht.
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