Sobre patronos e patronagens
Hoje é dia do soldado, cabeça de papel, dia de homenagear Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército brasileiro, quem não marchar direito você já sabe. Uma vez me veio uma sacada: se o Duque de Caxias é conhecido como O Pacificador terá sido ele o primeiro caveirão da História? Pensando no papel da PM na política de segurança no Rio, a semelhança é sinistra.
Nasci e vivo na cidade que traz o “carrego” de ter o nome de Duque de Caxias, por conta do sujeito ter nascido aqui na região, numa fazenda do terceiro distrito. E como é uma região marcada pela violência, como tantas pelo país, o nome do patrono parece ser mesmo uma chaga que a cidade vai carregar pelo resto da vida. Bem emblemático. Muitos setores do movimento social já tentaram levantar esse questionamento visando a mudar o nome do município, mas foram tentativas em vão. Sequer ecoaram minimamente. Ainda é muito incipiente a discussão sobre o papel que o “patrono” teve de sufocador de rebeliões populares durante o império. O próprio título nobiliárquico conseguido (primeiro Barão, depois Marquês, Conde e Duque) foi por ter massacrado a revolta dos Balaios, na cidade de Caxias, no Maranhão, rebelião popular de alta carga revolucionária para a época e que, como tantas, serviria de inspiração para muitas outras. Por isso não bastava só sufocar a revolta; era necessário um massacre exemplar para servir de exemplo e mostrar quem mandava naquela joça imperial. E nisso o maluco era bom – basta falar do papel lamentável da Guerra do Paraguai, uma vergonha para o país e para a América Latina, onde o duque teve papel preponderante.
Cruel exemplo de como a História é contada do ponto de vista dos poderosos, com gerações inteiras estudando nos livros escolares que o “Duque de Ferro” foi um cara bom, defensor da pátria iuscarái. Hoje em muitos lugares, como é o caso dessa cidade aqui, é feriado e haverá homenagens, desfiles cívicos, discursos cínicos de autoridades, continência e coisa e tal. Reverências a um reconhecido genocida, dos muitos que fazem o trabalho sujo para o “impérios” que vão se sucedendo, nesse rodízio de regimes autoritários, com pequenos intervalos democráticos que é esse gigante Brasil.
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