05 de Maio…Dia Internacional das Parteiras…Do Fundo do Ventre… Nasci pela mãos de uma: dona Odete… Obrigada..

No dia 5 de maio é comemorado o Dia Mundial das Parteiras Tradicionais. No Brasil o seu dia é o 20 de janeiro. O dia passou, mas o mês é o mesmo.
Eu e minhas irmãs e irmãos (com exceção dois últimos, pois ela já havia falecido), nascemos pelas mãos de uma: dona Odete, a parteira líder da Vila Itamarati e de outros bairros. Ela corria muito para tender as nossas parturientes. Trouxe ao mundo um monte de bebês. Lembrando aqui de um episódio: o sonho do meu pai era ter nascido na Bahia, ele amava essas terras. Dos 14 filhos e filhas um dia nasceu um que ela, dona Odete, quando terminou o parto, chegou para papai e disse: – seu Manoel esse que nasceu é baiano, vá ver a carinha, a cabeça dele, parece um baiano. Não deu outra – seu nome era Edson -, mas quem procurava por ele com esse nome ninguém sabia, bastava falar no Baiano que a Itatiaia toda sabia, aliás exímio dançarino dos Bailes Black no Clube Itapemirim, hoje Itaperuna.

Nasci carequinha, e mais uma vez vai a parteira a fazer suas previsões. Ela fala para mamãe e papai que eu iria ter que cuidar de muitas cabeças, de muita gente e lutar pro meu povo ficar bem. Amante do carnaval ela brincava os quatro dias, e num desses dias um outro irmão meu decide nascer. No desfile das escolas tradicionais. Justamente no dia em que ela se preparou para sair na sua Portela. Ainda não existia o Sambódromo, era na Presidente Vargas. Pois bem, ela fez o parto do meu irmão fantasiada, e assim que ele nasceu, falou com mamãe, com papai e com sua colaboradora: “bom nasceu, agora é com vocês, está tudo certo, eu preciso desfilar, ir pro samba”, algo assim que me lembro ouvindo mamãe falar. E foi, e tudo mundo ficou bem!!! Essa era dona Odete, que até virou nome de creche. Viemos ao mundo pelas suas mãos.

As parteiras perderam espaços com o surgimento dos equipamentos hospitalares e com novos conceitos a partir do parto feito por médicos. As que ainda existem estão se adaptando aos tempos modernos, fazendo cursos de enfermagem, aliando às práticas tradicionais, como as massagens para aliviar as dores do parto, com o uso das plantas medicinais e dos chás. Seus conhecimentos são transmitidos oralmente, e se constituem como patrimônio cultural nacional. As parteiras têm enraizado em si o cuidado e a atenção no atendimento às mulheres na hora do parto e esses são valores que não se perderam com o passar do tempo. O ofício das parteiras tradicionais consiste no acompanhamento da gestação, parto e pós-parto. Elas são as mães de umbigo, as que pregam a arte de botar gente no mundo.

Por Sílvia de Mendonça


Sílvia de Mendonça

Formada em jornalismo e produção cultural, Sílvia de Mendonça também é atriz e ativista do Movimento Negro Unificado (MNU). Também tem presença nas lutas contra intolerância religiosa, juventude negra e direitos humanos.

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