Sobre redes, Baixada, quilombos e roteamentos

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Tem gente que não entende uma coisa básica: atuar em rede não é o mesmo que FALAR que atua em rede. Porque a rede revela e deixa evidente em pouco tempo quem é mascarado e/ou mal-intencionado. Atuar em rede requer verdade; e uma dose generosa de desapego. Envolve lutar por transparência. Menos gabinetes e menos hierarquias. Menos babação de ovo do chefe de plantão. Menos criação de intrigas. Menos birra. Menos arrogância. Mais disposição para diálogo DE VERDADE.

Falar é fácil. Só ficar nas palavras é coisa do mundo quando ainda não havia a internet (salve, salve). Naquele mundo lá atrás era só dizer qualquer coisa e todo mundo entubava. Hoje,por exemplo, não adianta a mídia hegemônica lançar sua versão para os fatos, porque na mesma hora a rede reage. E é o mesmo mecanismo para quem diz que atua em rede mas vive em função de busca por cargos, vive dando volta em coleguinhas, vive sabotando iniciativas legais com medo de “perder espaço”.

Uma frase ótima e famosa de John Gilmore, citada no manifesto Mundo de Pontas: “A Internet interpreta a censura como um defeito e roteia para contorná-la”. É o que os burocratas autoritários e o espertinhos tentam mas não conseguem mais: viver de pose e continuar fazendo o que bem entendem, achando que todo mundo vai aceitar qualquer coisa, sem questionar. Não dá mais porque hoje a rede roteia e desmascara.

Há um motivo principal para que as redes da Baixada Fluminense estejam agora nesse momento tendo muita visibilidade: é porque por aqui a ação em rede sempre existiu de verdade e com verdade. Com afeto e com uma dose necessária de raiva. As redes estão na lógica da abundância e não na lógica da escassez. Lógica da escassez: se tem grupos novos chegando precisamos acabar com eles para não perdemos nosso espaço. Lógica da abundância: se tem novos grupos chegando precisamos fortalecê-los porque assim toda a rede cresce.

As redes também são fortes porque elas têm uma longa história de luta e festa. Os quilombos do Iguaçu e do Sarapuí, por exemplo, já eram uma rede incrível no tempo do Império e hoje essa efervescência toda vivida na região pode crer que é filha direta desse espírito.

E essa onda que está batendo agora tem um recado bastante nítido: a Baixada precisa ser representada por ela mesma, POR SUAS PRÓPRIAS REDES. Não dá mais pra ficar todo mundo querendo ser o porta-voz da Baixada e nem dá mais pra ficar sendo representado por forasteiros ocasionais. Ninguém é dono do discurso, ninguém é O representante de nada.

Entenda: as redes são passado-presente-futuro e são os governos que têm que se adaptar a elas e não o contrário. Todas as experiências que têm trazido resultados empolgantes e eficientes nas relações entre governos e sociedade são frutos de uma experimentação onde ouvir as redes está no centro das ações. Os céticos, os amargurados e os despeitados chamam esse pensamento de romântico, ingênuo, utópico, infantil. Mas, a real é: aceitar dói menos… As redes estão roteando as estruturas pesadas e retrógradas e esse movimento, felizmente, não tem mais volta. A ação em rede é de fato, acreditar no potencial das redes – o que em outras palavras quer dizer: novos modelos estão surgindo e ousar deveria ser uma das palavras de ordem nesses tempos bicudos.


heraldo hb

. Animador cultural, escritor e produtor audiovisual nascido no século XX. .

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