50 anos do enterro de Joãozinho da Gomeia
Há 50 anos uma multidão tomou conta das ruas dos bairros Copacabana, Jacatirão e Corte 8, em Duque de Caxias, para a despedida ao corpo de Seu João. Antes do céu azul daquele domingo de sol escaldante ser rasgado pelos raios de Iansã trazendo a forte tempestade, que marcou a memória coletiva, um cortejo fúnebre percorreu os 6 km que separam o Terreiro da Gomeia do Cemitério do Corte 8, produzindo cenas de forte comoção registradas amplamente pela imprensa e pelo sociólogo suíço Jean Ziegler. Em um dos capítulos de seu livro “Os vivos e a morte”, Ziegler aborda os ritos fúnebres de Joãozinho da Gomeia, destacando um ecumenismo que acredito capaz de nos ajudar a enfrentar a ascensão dessa direita neopentecostal, que vem pavimentando vitórias eleitorais nefastas para a produção de vidas saudáveis e belas que Seu João tanto cultivou em seu ciclo carnal.
“Uma multidão de 5.000 pessoas (cifra calculada pelos policiais militares do 6º batalhão, encarregados de manter a ordem no bairro) aglomerava-se no terreiro. Contou-se de 8 a 10.000 pessoas no dia do velório. (…) Assiste-se então ao espetáculo de um extraordinário jogo sincrético, esplêndida convergência tipicamente brasileira das relações do bairro, por ocasião do sepultamento no domingo 21 de março. Dom José Antônio Silva e Dom Hugo Silveira Lima, ambos bispos titulares da Igreja do Brasil , espécie de dissidência católica, chegavam revestidos de suas casulas diante do corpo embalsamado de João (…). Sua homília é simples e comovedora. Vieram prestar homenagem a um “homem bom e puro”, assim como os fiéis do Templo da Assembleia de Deus, seita protestante do bairro de Copacabana. Quando o cortejo fúnebre passa diante de suas portas abertas, os fiéis da assembleia põem-se de joelhos, saudando assim a última passagem de um vizinho poderoso, cuja conduta sacerdotal não compreendiam, ou pouco compreendiam, mas cuja bondade humana apreciavam.” (ZIEGLER, 1977, p. 73-75)
De cima para baixo, da esquerda para direita:
Imagem 1: Autoria desconhecida. Fonte: Foto postada no Grupo do Facebook “Joãozinho da Goméia/Tata Londirá”. Disponível em:https://www.Facebook.com/groups/404236662972216
Imagem 2: Fotografia de Adir Mera. Fonte: Memórias da Bahia II – Caderno especial dedicado a Joãozinho da Gomeia, editado pelo jornal Correio da Bahia, Salvador, em dezembro de 2003 (Acervo IHCMDC).
Imagem 3: Fotografia de Adir Mera. Fonte: Revista Manchete, 04/04/1971. Disponível em: