Entrevista especial: um pouco mais sobre a Capa Comics e o que vem por aí
A revista Capa Comics é sem dúvida mais um marco na cidade de Duque de Caxias e estamos falando sério. Embora seriedade passe longe da alegria que tem tomado conta de quem entra em contato com a galera que está tocando essa parada. Obviamente, com toda a ralação e tensão que um empreendimento como esse representa.
Aí vai uma entrevista fofa com dois desses malucos, o nosso Carpalhau véi de guerra, e o Luciano Cunha, nosso querido Zé Luca, criador de um dos maiores sucessos pop já saídos de Caxias, o herói O Doutrinador.
No momento da entrevista, a Capa Comics impressa ainda não tinha data pra sair; agora tem: dia 27/09, aniversário do mítico Tenório Cavalcanti, não por coincidência hehe…
Pra acompanhar a galera:
Site: www.capacomics.com
Evento de lançamento da revista no fêicibúquis: https://www.facebook.com/events/589795581068354/
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Lurdinha – Como surgiu a ideia e como é essa paradaê da Capa Comics?
João Carpalhau – Eu já havia criado um protótipo do Detrito, o Homem Cocô e propus ao Zé Luca (Luciano Cunha) que desenhasse. Inicialmente a coisa seria uma Grafic Novel, a ser produzida a longo prazo. Mas quando começamos a produzir, eu escrevendo e ele rabiscando, fiquei me perguntando: Vamos produzir mais uma daquelas HQs pra ninguém ler?
Existem trabalhos lindos em quadrinhos espalhados por todo o país, mas o hábito de ler quadrinhos, assim como o hábito da leitura é algo raro entre os brasileiros. Além disso, pode até haver um mercado, mas ele é para poucos. As grandes editoras querem vender e nós só queremos que as pessoas leiam. Foi aí que lembrei da revista Metal Pesado (Heavy Metal), onde alguns amigos meus chegaram a publicar. Era uma revista mista de quadrinhos, trazia muitas novidades, coisas que dão vontade de ler. O passo seguinte foi reunir a cambada e dizer: Vamos produzir quadrinhos que as pessoas queiram ler?
Luciano Cunha – Acho que surgiu numa conversa despretensiosa durante uma quarta no Mate com Angu. A coisa toda é mais uma tentativa de se fazer quadrinhos numa região onde não se lê quadrinhos…
Lurdinha – Quem mais tá nesse lance?
João Carpalhau – O legal deste projeto foi não só reunir os artistas de HQ, mas também trazer de volta gente que tinha parado de desenhar ou escrever porque não há mercado e não há quem leia, ainda mais vindo da baixada que é de onde se vem tudo o que é ruim. Temos no time Cristiano Ludgerio, Wally Silva, Hamilton Kabuna, Alexandre D’Assumpção, Rafael de Albuquerque, Antonio Wally e o Rodrigo Santos, por enquanto. Temos também o Kaja Man que vai cuidar da 10ª arte que é o grafite. Ainda rola apoio da Dani e da Terreiro de Idéias que tratará dos tramites burocráticos e você, né mister HB!
Luciano Cunha – Tem uma galera boa, capitaneada exclusivamente pelo Carpalhau, já que eu estava completamente afastado do mercado de quadrinhos, se é que isso existe no Brasil, então não conheço quase ninguém por causa disso.
Lurdinha – Vocês estão em pleno juízo mental? Tem público pra consumir essa parada?
João Carpalhau – Em pleno juízo mental nenhum quadrinista nunca está e se tiver então que arrume outra ocupação. Mas sabemos que além de uma meia dúzia de gatos pingados, não há nenhum público, por isso mesmo, ao contrário das grandes editoras que trabalham com fórmulas prontas, nós vamos construir o nosso público.
Luciano Cunha – Fazer quadrinhos no Brasil é para loucos e corajosos, então não tem como estar em pleno juízo mental. Quanto ao público consumidor, sinceramente, não sei… Prefiro ver a reação das pessoas após a publicação do primeiro número. Pra mim é uma incógnita total essa questão de público leitor na Baixada.
Lurdinha – Vai ter uma versão impressa, né? Quais os planos?
João Carpalhau – É aí que está o nosso diferencial! Teremos uma versão impressa e ela será distribuída gratuitamente em pontos estratégicos. Simultaneamente disponibilizaremos o PDF de leitura online em português e inglês.
Graças a parceria com a Terreiro de Ideias e com a Secretaria de Cultura faremos um grande lançamento em praça pública. A previsão é que tudo ocorra no mês de Julho. Será o meu melhor presente de aniversário, ou pelo menos espero que seja.
Luciano Cunha – Literalmente, os planos eu deixo com o Carpalhau, vou seguindo a maré. Acho que a versão impressa vai ser legal pelo fato de maior galera baixadiana ainda não ter acesso à web… Essa galera vai poder conhecer o trabalho de gente boa da Baixada e, espero, se reconhecer nas páginas.
Lurdinha – A Lurdinha costuma sempre perguntar no final: como é Caxias pra você? Essa porra tem jeito ainda?
João Carpalhau – Tenho uma relação de amor e ódio com a cidade, nela estão enterradas as minhas melhores e as minhas piores lembranças. É um lugar onde todo dia é preciso matar um leão para sobreviver, mas ainda assim a parte difícil é conviver com as cobras. De um jeito ou de outro, Caxias é nosso marco zero. Se não tiver jeito a gente explode e começa tudo novamente. Renascer e se reinventar todos os dias tem sido a grande qualidade de toda a Baixada Fluminense.
Luciano Cunha – Eu costumo ter o maior orgulho de falar que sou de Caxias, cara. Por todos os lugares em que trabalhei, nunca escondi minha origem. Conheço um monte de gente que tinha vergonha de dizer que era de Caxias ou da Baixada em geral. Mas como sempre fui um cara batalhador, eu tentava mostrar às pessoas preconceituosas que na Baixada tinha gente talentosa e de valor. Nunca escondi isso. Tem muita gente que ganha grana em Caxias e mora em outros lugares e fala mal da cidade… isso me revolta! Gente que rouba a cidade, mora em outro lugar e cospe no prato que come, é impressionante!
Quanto à cidade em si, eu gosto de estar perto da minha família e meus amigos da antiga, então me sinto bem por aqui. Caxias é simplesmente o microrretrato do país: uma cidade rica com um povo pobre, políticos ultra corruptos que entregam péssimos serviços à população. Quando, naquele dia que nunca chega, a educação melhorar, o país e os municípios melhoram como um todo.
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Vida longa à CAPA COMICS!