AMO-TE, CAXIAS. VAI ADIANTE

A propósito dos 15 anos da Lurdinha
Lá pros anos 80 o Chico Anísio tinha um programa na Globo, não lembro o nome, em que o mestre interagia com vários personagens interpretados por outros humoristas. Um deles era Valter Dávila que fazia um personagem interessante. O bicho era todo errado. Falava errado, lia errado, era engraçadíssimo.
Em um dos episódios, lembro bem, o personagem de Dávila citava um livro que ninguém conhecia: Amo-te, Caxias, vai adiante. Todos ficavam confusos, tentando entender que livro era aquele e quando Chico resolveu conferir o livro era, na verdade, A MORTE DO CAIXEIRO VIAJANTE, de Arthur Miller. Gargalhada geral, é claro.
Esse “amo-te, Caxias” ficou na minha memória, confesso, desde a infância. Naquele tempo não tínhamos nada publicado sobre Caxias. Pelo menos, nada relevante. Hoje Caxias é famosa, cantada em verso e prosa, para o bem e para o mal. Mais para o mal, é verdade. Mas por aqui há muita gente boa e já havia na época.
Naquele tempo a gente não tinha a LURDINHA, que já está aí há 15 anos, ininterruptos, como gosta de frisar Heraldo HB, o pai da Lurdinha.
Foi graças a ela que a gente passou a perceber o lado bom de Caxias, o lado das artes, da cultura, da nordestinidade e da baita generosidade que nossa cidade tem, e muito, para oferecer.
A Lurdinha foi o nosso Big-Bang, pois antes dela era o caos. De um modo geral o caos continua, mas agora o caos de Caxias é igual ao caos do Rio de Janeiro, do Brasil, do mundo. É um caos comum, solene e orgulhoso, tão absurdo quanto o caos de qualquer outro lugar. Só que a gente descobriu, no pós Lurdinha, que há vida além do caos.
Atualmente Caxias é cinema, é poesia, é teatro, é literatura, é artes plásticas, é pensamento evoluído e reflexivo sobre a piração da raça humana do ponto de vista social, econômico, intelectual, urbano, periférico, étnico, de gênero, número e grau.
Caxias agora é tudo ao mesmo tempo agora, como disseram os Titãs. O lado bom, otimista e, porque não dizer, esperançoso, da cidade, se concentra na Lurdinha. O lado mau se divide entre os gabinetes do poder que fazem questão de ignorar todos os talentos e sentimentos da cidade.
No pós Lurdinha a gente pode até denunciar os vendilhões e parasitas do planeta, do país, da cidade, mas pode também ignorá-los, por vingança, chegando a conclusão de que essa gente não merece ser citada porque não vale o ar que respira.
Aos quinze anos, a Lurdinha já está ficando uma mocinha.
Nós a vemos, no entanto, como uma dama. Uma senhora forte, cada vez mais corajosa, independente e madura. Além, é claro, de profundamente talentosa.