mestre peixe de caxias - grupo unificar de capoeira angola

A confirmação do falecimento do Mestre Peixe de Caxias hoje veio junto com um misto de sentimentos fortes, principalmente misturados entre a tristeza e revolta. Tristeza por perdermos uma pessoa tão especial como ele, tão de bem com a vida; e raiva por saber que ao que tudo indica o quadro de saúde dele piorou por negligência no atendimento do Hospital Adão Pereira Nunes.

No último dia 02 de janeiro, o Mestre sofreu um segundo AVC e, segundo a família e amigos próximos, houve um atendimento negligente no Hospital, sem um cuidado necessário para a delicada situação. É sabido que as primeiras horas após um AVC requerem muita atenção e são fundamentais para a recuperação, e mesmo a salvação, do paciente. Revoltante pensar que isso possa ter acontecido…

Itamar da Silva Barbosa nasceu em Caxias e sua trajetória de vida o fez se tornar uma das grandes referências da Capoeira no sudeste do país. Muito jovem ele fez parte de um grupo de moleques que em 1973, plena ditadura militar, na Baixada Fluminense, criou uma roda de rua, fora das academias, independente dos cordões, a mais pura energia da “vadiação”, esse conceito tão mal traduzido e compreendido. Era, simplesmente, a Roda Livre de Caxias, um das rodas de Capoeira mais conhecidas e respeitadas do mundo, que tinha Mestre Peixe com um de seus mantenedores até hoje. Aliás, em 2016, o movimento cultural caxiense pressionou o poder público e a Roda foi reconhecida com um Patrimônio Imaterial da cidade, através da Lei 6736, de 27 de dezembro daquele ano.

Depois de ter sido do Grupo Cosmos, junto com Mestre Russo, em 2012, junto com Mestre Velho e o hoje Mestre Graffit, Peixe criou o GUCA, Grupo Unificar de Capoeira Angola, cuja sede passou a ser com muita honra pra gente no Gomeia Galpão Criativo, espaço que ele foi entusiasta desde os primórdios. Aliás, não é à toa que o grupo ele que criou tem o nome de Unificar, palavra que carrega uma energia de positividade agregadora que representa muito sua personalidade.

Ano passado, em junho, lembro de como foi incrível o lançamento no Gomeia do filme “Caxias na Ginga: A Jornada de Mestre Peixe na Capoeira”, documentário dirigido por Thiago Nascimento, filho do Mestre Jurandir. A sessão lotada aconteceu dentro da festa de aniversário do grupo e foi uma tarde de grande emoção, onde o Mestre pôde sentir a amor e alegria de todos os presentes na ocasião. Dava pra ver que ele curtiu demais o filme e esse dia me lembrou muito a emblemática música Flores em Vida, do grande Nelson Cavaquinho.

É isso: perde a Capoeira, perde Caxias, perde a Cultura do país. Mas a inspiração e admiração ficam para sempre.

De minha parte vai ficar sempre a lembrança de um vizinho ilustre e querido, com seu alto astral, sua generosidade e sorrisão de bem com a vida.

Um salve para a família, suas filhas, amigos próximos e para os alunos que certamente vão continuar levando seu legado com muito amor e dedicação.

Iê, viva Mestre Peixe!


heraldo hb

. Animador cultural, escritor e produtor audiovisual nascido no século XX. .

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