2013 – O Ano da Cultura Alternativa da Baixada Fluminense
Para quem faz e vive a cultura na região 2013 foi marcado como o ano da cultura alternativa da Baixada Fluminense. Concretizado através de lançamentos e celebrações de resistência, pessoas e coletivos trabalhando juntos do jeito clássico do faça você mesmo, aliado às evoluções tecnológicas, em meio a um crescimento econômico acompanhado da desigualdade, colocaram sua produção artística e cultural na rua.
Além de um número significante de lançamentos e acontecimentos alguns resumiram uma particular história em cultura alternativa local. O lançamento do documentário “Praça do Skate”, de Paulo China, resgatou um patrimônio ainda desconhecido da população, e emocionou gerações de frequentadores desse local mágico: A primeira pista de skate pública da América Latina. Ainda no sonho de fazer cinema a turma do Mate com Angu comemorou uma década de resistência em 2013 lançando o livro “O Cerol Fininho da Baixada” de Heraldo HB, que trouxe a aventura que é fazer cultura na Baixada.
Esse documentário e esse livro sintetizam a íntima historia da Baixada com a resistência cultural, justo em um momento em que as iniciativas transbordam. Os saraus de poesia que pipocaram neste ano ciceronearam a volta do fanzine mais famoso e desconcertante da região produzido pelo grande ícone da cultura alternativa local, o Desmaio Públiko. Um selo musical feito em home estúdio reuniu um grupo seleto de compositores, a Pirão Discos produz Música Popular da Baixada. A banda Gente Estranha no Jardim fez o barulho maduro e profissional que se esperava na Baixada e a do meu coração juvenil retorna: Narguilê Dub Clan. A Floresta do Sono, uma festa feita no quintal verde do Marquinhos da banda Genomades, assim como o maior encontro de graffiti voluntario da américa latina, o Metting of favela, deram continuidade as atividades só encontradas no território da BF. Capa Comics colocou suas HQs no cenário nacional com os personagens e paisagens de Duque de Caxias. Uma das pouquíssimas produtoras culturais da região, da qual tenho a honra de fazer parte, a Terreiro de Ideias se consolidou justamente por fomentar ações e projetos junto a grupos culturais e propor um suporte profissional para a produção cultural local.
Se não fosse um festival de cultura antissexista, de rock autoral, protagonizado por mulheres na região mais violenta para estas do Estado e extremamente precária para a cultura, a segunda edição do Festival Roque Pense! até pareceria natural, mas sua realização levou as mulheres para a pauta dessas discussões, consolidando-se como um dos maiores festivais do gênero no país.
Isso tudo aconteceu em um contexto geral bem comum a todos os anos: desfavorável à cultura, independente, de fato, de governos, fora das estruturas participativas enfraquecida se contaminadas,das conferências e conselhos já não são mecanismos controlados por estes movimentos. Mas não se enganem, estão se organizando movidos tão somente pelo papel que desempenham, o que os legitimam.
Arrisco a pensar que o momento não poderia ser melhor, pois,em sua grande maioria, as iniciativas partiram de agentes e grupos atuantes há anos na região, com atuações que resistiram a este contexto comum, ou mesmo os mais jovens, encontram lugares onde ir e a galera que tá agitando, tendo assim referências para suas próprias iniciativas.
Um reflexo disso seria o que aconteceu neste ano com a cidade de Nova Iguaçu. Apontada como centro da discussão cultural na região, experimentou uma verdadeira fuga dos artistas e produtores de espaços submetidos ao poder publico atual. O tradicional Buraco do Getúlio comemorou seus sete anos de atividades de volta ao Bar do Ananias, de onde tudo começou, assim como o maracatu Baque da Mata, não realiza mais suas atividades na Casa de Cultura Municipal. E também o Festival Roque Pense! impedido de ser realizado na Praça do Skate, em uma visível retaliação política, se retirou da cidade. Todas essas iniciativas se fortaleceram após esses episódios, em atitudes que consolidam ainda mais seus papeis políticos culturais, onde ficou claro que o movimento cultural já não admite regimes coronelistas historicamente praticados na região.
Atitude necessária, a meu ver, para a própria sobrevivência do movimento, neste confronto de interesses em Nova Iguaçu, a falta de diálogo no resto do território, ou mesmo no empenho de Mesquita, onde o Poder Público protagonizou resgates como a Semana do Hip Hop e o Dia Mundial do Rock, ambos disseminados e enfraquecidos nos últimos anos, que ainda se refaz para poder assumir as suas segundas edições.
Quando um post de Cezar Ray, do Desmaio Públiko, observou os acontecimentos e traduziu em uma “verdadeira cena” e chamuscou faíscas lá de Recife, sua residência atual, essa turma do rock, poesia, cinema, literatura, teatro, musica e o que mais brotar nessa terra, se reuniu no Jardim dos Estranhos, outro quintal que já é referência cultural, para sentir na pele esse momento. Particularmente acredito que esse encontro foi apenas o apontamento do que vem a seguir: contar a história da cena mais quente e underground do Rio de Janeiro, por nós mesmxs.