(A Taça do Mundo é nossa)

Sempre que acontece este evento esportivo, Copa do Mundo, a minha memória viaja no tempo e me remete ao distante 1958, quando o Brasil conquistou a Taça Jules Rimet pela primeira vez. Lembro até onde eu estava nesse dia: na casa do meu tio Enéas, em Vila Rosali (São João de Meriti), da qual já falei em crônica anterior. Agora, sobre a passagem do irmão de minha mãe por aquele bairro, tenho algumas lembranças que gostaria de relatar. Por exemplo, foi naquela casa que ouvi pela primeira vez, Carlos Gonzaga cantando a versão de Fred Jorge para Diana, sucesso internacional de Paul Anka. E foi ali também, que ouvi pelo rádio a vitória do Brasil sobre a Suécia (4×2).
A decisão se deu num domingo à tarde, ensolarado (pelo menos na Baixada Fluminense), dia 29 de junho. Tio Enéas tinha um rádio de madeira, alimentado por válvulas, à época chamado de rabo-quente. A seleção brasileira entrou em campo: Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Pelé, Vavá e Zagallo. Creio que ainda era uma experiência nova, a transmissão da Copa do Mundo por emissoras brasileiras, a partir de tão longe. Não sei se a deficiência era de algumas rádios ou do receptor do meu tio, mas o fato é que a narrativa era entremeada por interferências de silvos e ruídos.
Assim, os ainda chamados speakers, empolgados, tentavam nos transmitir as emoções que viviam em Estocolmo, mas eram entrecortados, de quando em quando, pelas interferências. “Lá vai Nilton Santos… dribla um… dribla dois… giiiiiuiiii, uiiii, zizizizi, uiiii… mata no peito e segue com a bola…”.
– Quem matou no peito?
– Cala a boca, vamos ouvir.
“Giiiuuuiiizizizizizigiiiuuii… mas Didi intercepta e toma o comando do jogo…”.
Ah, sim, quem matou no peito foi um adversário, mas agora já não há perigo, ela está com Didi. “E lá vai ele, o Príncipe Etíope, que atravessa pra Zagallo… zizizizizizi.. roooonn… Gol!”.
– Puta merda, foi nosso?
– Pelo desentusiasmo do speaker, deve ter sido deles.
“… Liedholm, aos 4 minutos do primeiro tempo… 1×0 para a Suécia…”.
E de interferência em interferência, a narrativa seguia, o tempo avançava e o jogo, idem. Aos 8,32 min Vavá se encarrega do empate, que se arrastou pelo resto do primeiro tempo. Mas aos 11 minutos do segundo, Pelé vai lá e crava o desempate, seguido por Vavá, pouco depois (23). O placar marcava 3×1 e pra nós, brasileiros, já estava de bom tamanho. Mas, aí (aos 35), Simonsson mete mais um para a Suécia. Este gol, o treinador Vicente Feola nem viu, pois estava dando uma cochilada, sentado junto ao campo, como era de seu hábito. Quando tudo indicava que o jogo terminaria com aquele resultado, Pelé marcou mais um, no 44º do segundo tempo: 4×2 Brasil. Pronto, a Taça Jules Rimet era nossa.
E as comemorações se estenderam pelo resto do ano.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.