Na efervescência política e cultural da década de 60 um grupo de jovens, oriundos em sua maioria da Igreja Católica, se organizaram para criar o jornal O Vetor, o Grupo Objetivo e a Associação dos Amigos do Teatro Nosso. O Vetor tinha ligações políticas com “O Pasquim” e alguns de seus membros militavam contra a ditadura militar. Este jovens estudavam no Cruzeiro do Sul, no Aquino de Araújo e no Instituto de Educação Governador Roberto Silveira. Tinham como principal bandeira a criação de um Teatro Publico Municipal.

Este grupo se reunia na “esquina da legalidade”, entre a Avenida Duque de Caxias e a Rua Correia Méier. Ponto de encontro para um café antes de embarcar nos trens em direção à zona da Leopoldina e à Central do Brasil e no retorno, de uma parada para a cerveja e um bom papo no final do dia. Neste local seria instalado o escritório do combatente deputado Lázaro de Carvalho.

Através da Associação dos Amigos Teatro Nosso fizeram uma intensa pressão sobre o prefeito Moacir do Carmo para que ele criasse um teatro. Utilizaram-se de intensa propaganda nos espaços públicos, nas escolas e em artigos de jornais. Mobilizaram a população para ocupar um terreno na 25 de agosto que seria doado à prefeitura. Para viabilizar a construção, liderados por Barboza Leite, fizeram um mutirão. Como a doação não se consolidou utilizaram outra estratégia: ocupar a laje de uma das lojas do que viria a ser o Shopping Center, inaugurado em 1967. A ocupação ocorreu neste ano e no ano seguinte o teatro foi inaugurado.

Teatro Municipal Armando MeloO Armando Melo foi o primeiro teatro público da cidade. Antes dele as apresentações teatrais ocorriam em vários espaços improvisados: no Clube dos 500, no auditório da Associação Comercial, em escolas, em igrejas. Foi alugado por 1 cruzeiro e doado à cidade por 99 anos. Seu nome é uma homenagem à Armando Melo, nome artístico de José Agostinho dos Santos, um dos fundadores do Teatro Moderno Caxiense e atuante na Radio Difusora Nacional.

Nos conturbados anos da ditadura militar e de intervenção na cidade o Armando Melo abrigou espetáculos ousados para a época: “Os inimigos não mandam flores”, “A beata Maria do Egito”, “Banana Opus 69”, “Auto da Criação” e “Festival de defuntos em Caxias”. Alguns destes espetáculos provocaram a prisão de seus atores e outros os levaram a receber prêmios e homenagens.

Na atualidade, com democracia plena, com liberdade de expressão e com os novos rumos da cultura nacional ficam algumas indagações: por que o Teatro fica lá no cantinho, escondidinho, desconhecido pela cidade? Por que, assim como o Teatro Raul Cortez, não abriga espetáculos ou formação de público de forma democrática, plural e horizontal? Por que o poder público não se faz presente num espaço público?
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Alexandre Marques

Alexandre Marques é professor de História. Contato: alxmarques@ig.com.br

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