Nos anos 90, a cultura de quadrinhos da Baixada Fluminense se resumia a alguns poucos jovens frequentadores de sebo. Nunca houve uma gibiteca, incentivo a leitura, mas de alguma forma, havia aqueles que buscavam. E ainda bem que sempre há os que buscam algo novo. Na Baixada, em especial, buscava-se o novo exatamente no lugar onde havia coisas velhas, no geral usadas.

Os sebos eram o parque de diversões dos jovens famintos por gibis e de tantos outros amantes da leitura. Hoje, são quase extintos da Baixada, resumem-se a pequenas bancas, lojinhas ou mesmo livreiros que expõe nas calçadas e feiras que são muito mais de legumes e verduras do que de livros ou quadrinhos. Há muitas iniciativas boas acontecendo, mas ainda não receberam o devido destaque. Os sebos trocavam, compravam e vendiam exemplares de livros, revistas, quadrinhos e todo o tipo de leitura que substituiria gloriosamente a banalidade por coisas que estimulam o pensamento. Aliás, é neste ponto que a rapidez da internet e a velocidade que as informações chegam, tornam-se nada mais que um conteúdo vazio, um assunto de momento, extremamente efêmero e altamente esquecível.

Sabe-se que há bibliotecas públicas e elas estão em todas as partes, cheias de livros e vazias de pessoas. Mas será que tudo isso é falta de leitura do brasileiro ou falta de haver coisas com que as pessoas se identifiquem para ler? Será que nos anos 90, por não haver uma internet tão em voga, as pessoas buscavam mais o que ler? Ou por fim, será que chegamos em tempos tão contraditórios que todo argumento será fruto da repetição? Não me proponho a responder estes questionamentos, mas se tivermos em mente que tudo que somos é o reflexo daquilo que assimilamos, as respostas ficarão muito mais claras para cada um.

Mesmo que de canto, as livrarias, bibliotecas, sebos e feiras literárias ainda estão ai, sobrevivem ao tempo, a internet e aos Ipods. E se enquanto há vida, há esperança, o pulso ainda pulsa, mesmo para uma geração que não conheceu o vinil, o VHS, a fita cassete ou o sebo. Um conselho é: Não ter medo do novo e jamais esquecer que amanhã todos seremos mais velhos. Envelhecer com sabedoria, não é um processo natural, mas sim, uma escolha. Estamos no meio do ano, o que você já leu até agora? Então, aproveite enquanto ainda há tempo e sebos.

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João Carpalhau no Jornal Extra
Crônica do João Carpalhau publicada no Jornal Extra

João Carpalhau

João Carpalhau é roteirista, cartunista e arte-finalista. Morador de Duque de Caxias e criador do Coletivo Capa Comics.

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