Falta d'água em Duque de CaxiasTodo verão é mais ou menos a mesma coisa: a água some de boa parte das torneiras caxienses. Neste verão de 2012, no entanto, a seca se dá de maneira muito mais ampla, intensa e cruel. Até mesmo bairros que nunca vivenciaram o problema da falta d’água estão padecendo de maneira terrível.

A coisa, como quase tudo na vida, tem explicação. Duque de Caxias produz, nas represas de Xerém e Mantiquira, cerca de 15% da água que consome. Os outros 85% vem da estação de tratamento do Guandu, que abastece a capital e todos os municípios da Baixada Fluminense.

Seguindo a lógica de toda a prestação de serviço no Brasil, País de terceiro mundo, a água é tratada como mera mercadoria. Sendo assim, a prioridade é de quem tem dinheiro no bolso para pagar a conta. No entanto, o fato de termos um sistema integrado faz com que essa concepção se de, não em função do indivíduo, mas em função das regiões.

A água produzida no Guandu segue prioritariamente para a capital do Rio de janeiro, principalmente Zona sul, independente de quaisquer necessidades vitais dos moradores de outras regiões. Trata-se de uma ação seletiva, consciente e política. A Baixada, como ocorre em várias outras esferas da prestação de serviços, fica em segundo plano.

A lógica adotada é a do poder. Governador, Secretários, Deputados (mesmo os que se elegem com os votos da Baixada), Senadores e autoridades em geral moram na Zona Sul. Jornais e emissoras de rádio e TV de grande peso na manipulação da opinião pública se situam, todos, sem exceção, no Rio de janeiro. Não há, por parte dos cidadãos da Baixada, poder de fogo; Condições de encarar a situação de igual para igual e exigir respeito, cidadania e dignidade.

Qualquer pessoa minimamente instruída sabe muito bem que a Baixada só é importante para os nossos governantes na hora do voto. Depois de cada eleição, colhido este precioso presente, a região é sempre abandonada a sua sorte. E como o voto é obrigação, ao invés de Direito, o cidadão comum não pode nem se negar a ir às urnas, sob pena de sofrer aquelas velhas sanções especialmente designadas aos pobres que se recusam a legitimar o poder dos ricos.

Em resumo, a questão é meramente política. Nossos governantes consideram que a Baixada não merece um tratamento digno no que diz respeito ao abastecimento de água potável.

A solução técnica para o problema existe, mas é arriscada demais. Principalmente para a sobrevivência dos nossos bravos representantes políticos, afinal de contas eles se perpetuam no poder exatamente em função das nossas carências. Enquanto houver falta d’água haverá sempre um Deputado, Senador ou Prefeito prometendo soluções miraculosas e, consequentemente, mantendo seu mandato.

A cada eleição fala-se muito, por exemplo, em municipalização, tese que só pode ser explicada pela mais completa ignorância ou por pura e simples ma fé. Se a cidade só produz 15% da água que precisa, continuaria refém do Guandu, mesmo que algum governante embolsasse milhões entregando a concessão dos serviços para alguma empreiteira. A municipalização poderia até ser um negócio altamente lucrativo para quem governa, mas para a população, seria algo tenebroso. Apenas aumentaria a tarifa, para pagar os lucros dos intermediários, e a torneira continuaria seca.

A solução mais viável, segundo os quadros técnicos da Cedae ( engenheiros de verdade) que ainda são comprometidos com uma política digna de abastecimento, seria a construção da ETA BAIXADA, Estação de tratamento de água exclusiva para a região, que seria construída em Piraí, aproveitando a água do lago de Ribeirão das Lages. Abasteceria toda a Baixada usando basicamente a força da gravidade e custaria, talvez, a metade do que se está gastando na “reforma” do Maracanã, além de liberar a produção do Guandu para servir exclusivamente a capital, tão amada pelos governantes.

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