Apesar do tempo nublado, o sol ainda existe!

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Avaliação das eleições 2024 em Caxias

Completados dois meses da eleição municipal, olhamos Duque de Caxias e tentamos entender o tamanho da derrota anunciada, mas antes um pouco menos considerada devido a miopia política, comportamento típico diante do inevitável. A manutenção do mesmo governo, dá combustível às políticas de retirada de direitos e a implementação de ações meritocráticas no serviço público, principalmente na área da Educação. A continuidade das arbitrárias investidas sobre o meio ambiente, com a extinção de enormes áreas verdes, fontes e animais silvestres, substituídos pela exploração de empreendimentos imobiliários e comerciais de livre utilização. E da mesma forma nas áreas de remanso, como o Campo do Bomba, desrespeitando a condição natural de vários lugares, provocando assim as enchentes. O projeto não mudará, mudou o nome do prefeito, mas a forma de administrar o município seguirá, fato que dependerá apenas do ritmo e investimentos da política que rege este país, de forma chantagista e manipuladora, através das Câmaras de Deputados Federais e Estaduais de direita e Bolsonarista.
E é exatamente neste lugar da política que queremos chegar. O resultado eleitoral é maior que a soma ou os prognósticos contabilizados até o dia da eleição. Vamos lembrar que meses antes, foi aprovado o orçamento secreto e parte dele apelidado de “emenda PIX”, repasse individual, sem a necessidade de indicação de uso no momento da solicitação. Estes valores ultrapassam 70% do total disponibilizado pelo governo, para as emendas parlamentares, dos quais apenas 1% informou o destino e uso da verba. Isto pode explicar as inúmeras obras iniciadas às vésperas da eleição, explicar o montante de dinheiro jogado para população no dia da eleição e outras mais explicações.
Poderíamos ter tido um segundo turno? sim poderíamos. No entanto, fatores como a emenda PIX, o representante do atual governo ter a máquina da prefeitura na mão, a postura coronelista, centralizadora e autoritária, possibilitou a composição de um campo de interesses que articulou mais de quatorze partidos em torno de um nome. Adicionamos a isso uma população empobrecida, subalternizada pelo colonialismo ainda presente neste município e que se utiliza da política do “beija mão”, para assediar a população, isto resultou na vitória da direita Bolsonarista com 54,07% dos votos. Fato que vem se repetindo nas últimas eleições.
O que fica deste processo, mais uma vez: Ninguém ganha eleição sozinho, ninguém ganha eleição de véspera, ninguém ganha eleição sem estar atuando junto a população cotidianamente e Duque de Caxias precisa deixar de ser curral eleitoral. Se faz necessário reduzir a arrogância dos prognósticos, tratar de forma racional as articulações que já se iniciaram para 2026, pois é do que se trata agora. A disputa pelas Câmaras Federal e Estadual será decisiva para o novo governo federal, do qual não podemos abrir mão, sobre a pena de voltarmos a um passado que vitimou a população, quebrou a estrutura política que reconhece da vulnerabilidade do povo brasileiro e instituiu a violência no estado do Rio de Janeiro e para o resto do país.

É importante destacarmos alguns pontos desta eleição. Tivemos o maior eleitorado indo às urnas das últimas quatro eleições, 515.350 mil pessoas votaram. Sendo 12.783 a mais que na eleição de 2020, 46.797 mil votos válidos a mais e 33.994 votos nulos e brancos a menos e 4.002 mil abstenções. Acredito que não só a polarização em dois nomes fez com que mais pessoas votassem, mas também ao fato de se apresentarem apenas quatro candidatos, fato acontecido na eleição de 2008, com três candidaturas: o eleito Zito (PSDB), Washington Reis (PMDB) e Leninha (PSoL). De lá para cá muitas coisas mudaram no país, retrocessos e luta pela manutenção do óbvio, se tornaram nossas batalhas cotidianas. Os representantes da política pouco mudaram, ou seja, ainda são os mesmos. Mudaram as siglas partidárias, o neoliberalismo endureceu, o fascismo passeia entre nós.
Mas algo diferente reacendeu esperanças em corações anestesiados, o campo progressista e de esquerda ocupou 33,42% dos votos. E 3% desses votos foram de pessoas que desistiram de votar branco ou nulo e resolveram validar o voto, apostando neste campo, isto não é qualquer coisa dentro de um cenário avassalador, que nos empurra a desistência, em 2020 não ultrapassamos os 10%. Em nome deles não podemos jogar a toalha, existem sim possibilidades reais de superação da política que está posta, os avanços são tímidos, mas perceptíveis, não podemos desistir, 2026 é amanhã, a ressaca já passou. Agora é levantar-se, sacudir a poeira e superar as dificuldades, cabeça erguida e sorriso no rosto, com luta e poesia, aliás já disseram, eles odeiam poesia!

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Ivanete Silva – Professora, Pedagoga, Coordenadora do Fórum Municipal dos Direitos da Mulher/DC, dirigente do PSoL e militante do MNU.


Ivanete Silva

Professora, Pedagoga, Coordenadora do Fórum Municipal dos Direitos da Mulher/DC, dirigente do PSoL e militante do MNU

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