Tenho assistido a tantas mudanças na humanidade numa velocidade alucinante. Mr. Elon Musk vendendo passagens pra bilionários darem voltinhas em volta da Terra num vôo orbital, por exemplo.

Tudo agora é digital e eu tenho um pé na frente e outro atrás embora seja eu carta fora do baralho. Palavras novas ou reaproveitadas ao bel prazer como “Meritocracia”. Vejo o bolsão de miséria avançando no mundo e principalmente no terceiro mundo.

Filósofos discorrem, Sociólogos, idem. Uma das principais correntes é a que fala ser a EDUCAÇÃO a principal ferramenta pra diminuir a desigualdade. EDUCAÇÃO pra todos. Povo sem Educação é povo vulnerável. Coréia, Japão, Vietnã… se ergueram após tragédias investindo na EDUCAÇÃO. Por isso me vi confiante quando o Professor Darcy Ribeiro, décadas atrás, se viu na possibilidade de colocar essa ferramenta, a EDUCAÇÃO, em prática. Construiu-se CIEPS (Centros Integrados de Educação Pública), maliciosamente chamados de “Brizolões”. A EDUCAÇÃO chegando às camadas mais populares e combatendo o crime e a fome e trazendo Luz. Escolas modelares. Esporte, Estudo, alimentação e ao fim disso, um CIDADÃO capaz de olhar de igual pra igual a tal “Meritocracia”.

Inicio dos anos 80 e a construção dessas Escolas aconteceram. Centenas. Alguns erros eram cometidos mas perdoáveis pela causa maior. O principal. Em muitos bairros que tinham como opção única um campo de futebol, foi colocado em cima um CIEP.

Isso se deu no meu bairro de coração, VILA SÃO JOSÉ, Pantanal, Duque de Caxias. E a minha pequena Vila, que já perdera Praça, Cinema, Clube, se viu desprovida de sua única opção de lazer. Mesmo assim perdoei.

Darcy Ribeiro se foi, Moreira Franco chegou e tudo foi desmoronando. nos CIEPS. que hoje agonizam. Lembro que no CIEP Clementina de Jesus, o da minha Vila São José (que os Correio chama de Santo Antônio), foi feita uma votação pra dar nome à Biblioteca de lá. Certa Professora me confidenciou que sugeriram dois nomes; Vinícius de Moraes e Claudio Aragão, vejam só! Pra meu espanto. De pronto disse à Professora que desse o nome de Vinícius de Moraes. Ao ser indagado o porquê, respondi que não suportaria ver uma Biblioteca com meu nome ser maltratada, abandonada e, principalmente, sem crianças e livros.

Alguns anos se passaram e hoje estive lá, na Biblioteca e pude ver, com imensa tristeza, a minha Biblioteca, abandonada pelo Estado que hoje é governado por Claudio Castro que entrou no lugar de um ladrão, que entrara no lugar de outro ladrão que substituíra o ladrão maior.

Cheguei retirante do nordeste cearense com cinco anos aqui. Fiz Universidade fora,, morei fora, voltei pra Vila assim que pude. Tornei-me Escritor com 30 livros Escritos , publicações na França , Suécia, Ucrânia e um imenso amor pela minha Vila São José. Pelos moradores de ontem e de hoje que ainda me chamam de “Tonho”.

A Vila São José é minha fonte da juventude. Aqui nunca serei o adulto Escritor Claudio Aragão. Serei sempre o menino “Tonho”, de cinco anos de idade.

Saí da destruída Biblioteca cabisbaixo. Com o coração apertado e pensando no que fazer.

Triste? Claro que não. Eu tô é puto pra cacete! (C.A.)


Cláudio Aragão

Escritor com mais de 15 livros publicados

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1 thought on “A Biblioteca

  1. Belíssimo texto para uma triste situação.
    Infelizmente o Brasil não tem governantes, não tem estadistas, tem apenas homens de mercado exercendo o poder público.
    São os verdadeiros vendilhões da pátria…. 🙁

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