Mestre Ediélio Mendonça, joia rara de se ver

Segunda feira de Carnaval estive com Ediélio Mendonça pra botar o papo em dia. Nos conhecemos desde 1973. Caxias toda fechada exceto o ” Coruja” e o Guanabara. Restou-nos as escadarias da Catedral de Santo Antônio. Quando o sol foi embora e o vento chegou…chegamos e nos sentamos sob os olhares de Santo Antônio. E tome conversa. Eu falava pelos cotovelos e ele rebatia. O papo era Cultura evidente. Com foco na nossa Duque de Caxias.
Desde tempos imemoriais que nossos caminhos se cruzam.
Em 1973 era um jovem ansioso por conhecimento. Estudava no Educandário Maria Tenório. E um Professor cativava a todos na Escola. História era sua matéria. Acabara de se formar. Era sua primeira Escola.
Naquele mesmo ano, com a permissão do Diretor Moisés Trajano, e para insuflar a Arte, a Cultura na pequena Vila São José, Ediélio organizou um Festival de Poesia. Com o apoio do importante jornal LUTA DEMOCRÁTICA e do seu fundador, lendário Dr. Tenório Cavalcanti.
Foi divulgada e acirrada a disputa da Poesia. E por fim uma imensa crônica sobre o evento e o poema vencedor, do jovem ginasiano Antônio Damião Cristino de nome FIM DE LIBERDADE e da segunda colocada, Tereza Cristina Gonçalves Dias ( filha do nosso Farmacêutico Sr.Moraes), de nome O PAPEL.
II
Depois do ginasio nos distanciamos. Eu fui trabalhar em feira, em fábrica, em obra e, por fim, Gastronomia e entrei na Universidade. Letras. Virei Escritor. Estive em outros Estados.
Em 1996, depois de 4 livros em Poesia, lancei meu primeiro livro em Prosa: GALO PRETO E OUTRAS HISTORIAS. Ediélio teve acesso ao livro. Foi pra São Pedro da Aldeia, fez uma imersão nas 48 histórias e veio de lá com a adaptação teatral pronta. E por 3 meses o saudoso Teatro Procópio Ferreira, com 480 lugares, teve locação máxima.
III
Ediélio Mendonça formado pela UERJ, é uma referência de Cultura na Baixada Fluminense principalmente Duque de Caxias.
Por onde passou revolucionou. Desde a sua Campos dos Goitacazes, onde deu visibilidade ao Carnaval, organizando desfiles, até Duque de Caxias e Nova Iguaçu onde levou o Teatro até o primeiro patamar com um Molière ( anunciado no Jornal Nacional), para a peça SACOS E CANUDOS em 1977.
Fez história no pequeno gigante Teatro Armando Mello, no Shopping Center de Caxias e depois no saudoso Teatro Procópio Ferreira, na Câmara Municipal de Duque de Caxias.
Como esquecer das peças de Brecht montadas por ele? E de UMA HISTORIA DE ZOO, De E Albee, que ele com o inesquecível Marco Mirelli interpretavam? E de Martins Pena? E das adaptações de O Alienista, de Machado de Assis?
Recebemos alguns prêmios juntos. Nos aposentamos, eu e ele. Eu vivo fazendo Poesia para as plantas e ele segue em outra paixão; o Cinema. Ficamos felizes por AINDA ESTOU AQUI. É que sobrevivemos a esses tempos. Nos D.C.E s da vida.
Sentados na escadaria, sob a proteção de Santo Antônio, uma chuva fina, improvável caiu sobre nós e um jovem de batina, ex.aluno de Ediélio, na AFE, de nós se aproximou. O reconheceu. Entrou pra rezar a missa. Tornara-se Padre. Nos abençoou. Nos levantamos. Ediélio e eu fomos ao Guanabara. Ele pra comprar água e eu sabonete pasta de dente e um barbeador Probak.
E a história foi essa.
( C.A.)