balinha-de-coco

Fazia tempo que eu não ia para o trabalho de transporte público. Como as passagens para o terceiro distrito são absurdamente caras, e também com a constante correria de ir de um lugar para outro rapidamente, dei sempre preferência para a moto, mesmo com a gasolina cara do jeito que está, porque a moto ainda é econômica. Mas com dois meses de salário atrasado, até pra abastecer a moto está difícil. Então fui de trem e, como algumas passagens abaixaram recentemente por força do MP, voltei num ônibus que me faria andar um pouquinho mas que estava praticamente o mesmo preço do trem, que para Imbariê ainda é a diesel, uma vergonha!
Chegando na entrada de Imbariê, vi que vários vendedores tentavam entrar no ônibus. Até me assustei pela quantidade. Prova concreta do retrocesso que o país está vivendo, que depois de vários anos, está voltando ao mapa da fome. Muita gente se virando como pode para sobreviver. E muitos jovens, diga-se de passagem.

Mas no ônibus já havia um jovem, que entrara na Rio-Magé. Eu mal tinha notado, pois não tinha interesse em comprar as balinhas de coco que vendia, assim como a maioria dos passageiros. Muitas vezes esses vendedores ambulantes passam despercebidos, pois por mais que iniciem a frase com “desculpa interromper o silêncio de sua viagem”, a gente nem se incomoda mais. Mas eis que esse vendedor foi meu aluno. Josué, um adolescente semi alfabetizado, que foi para EJA aos 14 anos com distorção idade-série. Foi a maior dúvida aprová-lo na Etapa II. Ele me reconheceu de cara, apertou minha mão, disse que eu estava sumido e falou que até a professora está reclamando da situação. Confirmei a ele que estamos há dois meses sem salário, que estava difícil, e antes dele descer me deu um saquinho de balas. Recusei, era o ganha pão dele, mas ele insistiu em me dar. Fiquei muito feliz em saber que ele continua os estudos, apesar das diversidades. Vender doces quando a vida é amarga, sempre mantendo a esperança de que vai melhorar. E por mais que os governos tentem, é por causa de alunos como Josué que não desisto de ser professor.


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