Juca
Após uma semana de trabalho duro, seu passo era intenso e preciso, era o passo de quem sabe o que procura. Acabara de sair da escola dominical, o sol estava a pino.
Após a segunda esquina, avistou no final da Rua Boa Viagem (um dos principais becos de acesso à Favela Mangueirinha) uma figura que por motivos óbvios, ainda nutria bastante afinidade, e num brado: – Juca é você? Uma voz no fundo da viela respondeu imediatamente:
– Caralho!!! É você Marquinhos!
A familiaridade que tinha com aquele tom amistoso da resposta recebida soava como uma espécie de boas vindas. Recomendou à esposa: – Carminha se adianta com os meninos que eu vou ali evangelizar uns irmãos!
O bico do sapato social brilhava mais que a inicial de seu nome, que exibia com orgulho no antigo cinto fino que usava para as reuniões da Igreja Universal aos domingos, e isso ofuscou a visão de parte do bando ao verem entrando no beco aquela figura atípica para os padrões do local.
– Pensei que você nunca mais fosse aparecer.
– Pois é Juca, tô na igreja agora, já são três semanas…
– Fica tranqüilo que aqui você também está entre irmãos!
– É verdade, já orei pra caçamba, sei que papai do céu vai me perdoar.
– Relaxa, estamos aqui pra isso mesmo! Essa é da boa!
Quando Marquinhos deixou o local naquela manhã de domingo, ao seu ouvido, o salto do seu sapato em contato com o chão, reverberava muito mais alto.
Ricardo Villa Verde