Crônicas da Covid-19 na Periferia – a “rua A”
A rua que mais caminhei na minha vida, uma imagem direto do ponto de onde saio. Rua Artur Gonçalves da Cruz ou “Rua A”. Aqui passei toda minha vida, aqui tenho muitos amigos, mas com ressalva, muitos com o pensamento e discurso de ódio, muitos sem saber o que estão dizendo, tipo os Fariseus, cheios de hipocrisias. Bom, ainda sim sou amigo de todos, ainda gosto de debater qualquer assunto, de rir e falar besteira. De olhar para meus vizinhos e dizer “ainda bem que ainda estão aí”. Me sinto bem em saber que tenho amigos, mesmo eu fazendo essas críticas, que é assim mesmo, não vão deixar de serem meus amigos. Bom, é apenas um registro de onde vivo, do Conjunto Nova Esperança, no Bairro do São Bento no município de Duque de Caxias no Estado do Rio de Janeiro. É daqui que saio, é daqui que quero sair, é daqui que quero lembrar.
É aqui que tive minha primeira noção desigualdade social macro (vou chamar assim porque não sei se existe outro nome). Um conjunto em que as pessoas se sentem superiores as outras que vivem na parte de trás, depois da antiga linha do trem, onde até surgiu xingamentos e frases xenofóbicas. Aqui é onde as pessoas a pouco tempo queriam fechar (pra quê?), onde o cara que cheira cocaína crítica o maconheiro, onde o cara que vive na contravenção diz que bandido bom é bandido morto, onde quando veem um ladrão de celular sangrando por um tiro, fica feliz, mas quando o ladrão amigo chega, são os primeiros a abrirem sorrisos e darem um abraço forte. Não sei, mas aqui é de onde quero sair.
Covid-19 na Periferia
Cenário da Baixada Fluminense em pandemia.
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