Canudos – Dorsal Atlântica
Uma viagem no tempo que ecoa pela História brasileira
O novo disco da pioneira banda carioca Dorsal Atlântica, “Canudos”, tem como fundo lírico, a história de Canudos que está tão brevemente contada nos livros escolares. Entretanto, não se limita apenas à este estúpido e covarde massacre ocorrido em nossa História, pois, Carlos Lopes, utilizou com sabedoria, os ecos em outros acontecimentos e no fim, percebe-se como tudo de fato está conectado! Isso acontece porque a História de um povo é como um quebra-cabeça que aos poucos é montado.
O disco começa com a instrumental “Canudos”, que logo passa para a forte “Belo Monte”, que através de sua letra e instrumental, nos remete ao sertão de forma que, se fechar os olhos, é possível acreditar estar lá! A seguinte, “Não temos nada à temer”, é a primeira faixa que utiliza o passado como metáfora do presente, até no título e possui os versos que se destacam em meio à fúria: “Me cale que eu mesmo falo. Me ameace que eu gargalho. Me proíba que eu corro e faço. Tentem me matar que eu renasço.”.
Sem dar descanso, “O minuto antes da batalha”, na primeira audição, já se tornou uma das minhas preferidas deste disco! Nem vou comentar, só vou reproduzir o refrão:
“O minuto antes da batalha.
Quero ouvir quando o coração dispara.
O minuto antes da batalha.
Mostre suas feras que eu mostro minha cara.”
Sentiu a força? Pois bem, “Carpideiras” é mais uma belíssima e curta instrumental que antecipa “ A Conselheira”. Seguindo pela história, nos deparamos com “Sonho acabado”, que diz: “Não poderiam deixar dar certo. Porque dá certo demais”, isso explica muitas injustiças que nos atingem até hoje! É mais uma faixa que utiliza o passado para expor as feridas do presente, assim como “Cocorobó”, que mostra como a luta de Canudos ecoou em outros nomes da nossa História e por isso, fizeram de suas vidas um ideal por uma sociedade mais justa!
“Araçá do peito azul de Lear” e “Gravata Vermelha”, que são as seguintes, com certeza não veremos comentários sobre elas na grande mídia e sabem porquê? Porque a grande mídia é comprada e mantida pelos grupos que nos querem burros e domesticados! E por conta disso,não ouviremos nos meios de comunicação, nem mesmo o apelo de “Liberdade”: “Ergam os punhos! Defendam o sonho!”. “Favela” e “Ordem e progresso” são as derradeiras pedradas que fecham heroicamente o disco e quem for esperto, vai sacar as suas mensagens!
A Dorsal Atlântica, nunca foi uma banda de Metal convencional, nem mesmo nos anos 80, e esse sempre foi o seu diferencial! Enquanto muitas bandas se vangloriam em falar de figurinhas chifrudas como Satanás, mas não possuem colhão para falar dos verdadeiros diabos que fazem da nossa vida um inferno, a Dorsal sempre teve esse colhão para escolher temas mais maduros e reais e é por causa dessa coragem, que muitos até hoje repetem o velho bordão, a Dorsal é foda!
“Canudos”, vem com um caprichado material gráfico e talvez não seja um disco tão fácil para todos, há quem prefira a sonoridade antiga, alguns talvez precisem de mais audições para assimilar a proposta. Outros talvez precisem de mais experiências de vida, mas o certo é que “Canudos” é ousado e certeiro em envolver a nossa História com o peso do Metal e com a força de nossos ritmos regionais, para levar até o público, um propósito maior! Esse é o pensamento de Carlos Lopes (composições, guitarra e vocais), Cláudio Lopes (baixo) e Américo Mortágua (bateria).
Finalizando, “Canudos” é Dorsal e Dorsal é foda!