As Folias de Reis estão aí firmes e fortes!

Hoje é dia de Reis e sempre acho uma oportunidade boa para comentar que as Folias de Reis continuam vivas e atuantes e estão muito longe dessa ideia de que são coisas do passado, de algo que ninguém mais liga. Na verdade, é bem longe disso: no Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, tem folias em vários cantos, desde cidades no interior a áreas metropolitanas da Baixada Fluminense e em várias favelas da cidade do Rio. Só sintonizar o canal.

Em Duque de Caxias, por exemplo, tem folias que levam centenas de pessoas a seus eventos, puxados pela alferes Nôra Moraes e o mestre Rogério, do Reisado Flor do Oriente, e o mestre Bokinha, amigo poeta que puxa o Reisado Flor de Primavera. Com a observação importante de que a Flor do Oriente é um exemplo incrível de longevidade, com seus mais de cento e cinquenta anos de existência.

A propósito, Caxias foi a sede da Frerja, Federação de Reisado do Rio de Janeiro, entidade fundada em 1974 e pilotada com devoção pelo ator e produtor Edgar de Souza, e que chegou a ter mais de mil folias filiadas no Estado. Só para ter uma ideia, até 1998, estimava-se que em cerca de duzentas favelas do Rio, havia pelo menos uma. E segundo depoimentos do Seu Edgar, só Caxias teve por volta de dez folias. Aliás, Seu Edgar veio do teatro onde ficou conhecido por percorrer vários estados do país apresentando o monólogo Mãos de Eurídice, de Pedro Bloch. Morreu em 2011, bem desiludido com a falta de apoio à instituição que ajudou a fundar – seu sonho era criar um museu e uma sala de vídeo na sede.

A sede da Federação ficava em uma sala do edifício da Av. Duque de Caxias, 207, alugada pela prefeitura municipal. No comecinho dos anos 2000, muito anos de redes sociais digitais, a instituição foi desalojada e todo seu acervo (dezenas de bandeiras, centenas de documentos, fotos, roupas) foi jogado no lixo pelo proprietário do imóvel; na época a alegação foi falta de pagamento do aluguel. Nunca soubemos ao certo e na verdade só recebemos a trágica notícia vários dias depois do fato consumado. Me lembro da tristeza do meu amigo André de Oliveira, na voz e no olhar, quando soube do ocorrido e foi ao meu encontro para contar. Infelizmente, a Cultura nunca foi prioridade na cidade.

Sobre imagens e registros bem legais, em 2016, o artista Carlos D foi morar no Morro da Formiga e a partir de seu encantamento pelas folias de lá, decidiu inscrever uma ideia de documentar as manifestações em um edital público. Selecionado, do projeto saiu um filme lindo chamado Formiga de Reis, que está disponível no canal do Mate Com Angu na youtube.

Aliás, no Morro da Formiga, as folias locais se reuniram recentemente em uma entidade, chamada Reisados da Paz e têm conseguido juntas uma visibilidade muito importante. As imagens do final do ano passado para cá do povão junto com as folias de lá pelas ruas da comunidade são emocionantes demais, vale tirar um tempinho para conferir pelo instagram dos grupos.

Ainda sobre registro, recomendo muito um programa feito sobre folias, a partir da TV Maxambomba, com produção e direção do grande Tigu Guimarães. Nesse documento histórico, a propósito, dá para assistir Edgar de Souza falando com paixão e dando uma aula sobre os reisados no país, principalmente no Rio de Janeiro. Recomendo muito.

Quem não pôde hoje acompanhar as saídas de folias, também recomendo ficar atento ao circuito das festas de Arremate, que acontecem em todo o Rio e atualmente em diversos meses. São eventos sempre cheios e vibrantes, desses que você se arrepende de não ter ido nunca.

Pra fechar, vale lembrar que o dia 25 de março em Caxias é o Dia Municipal do Folião de Reis, data cravada pela Lei n° 2621 de 07 de abril 2014, criada para valorizar o povo que leva essas bandeiras tradicionais com grande orgulho. Mas que infelizmente é uma lei que tem passado em branco na cidade. A data poderia ser um dia altamente festivo no calendário da cidade, mas só é lembrada mesmo pela própria galera guerreira das folias.
Saúde e vida longa aos reisados e folias. Viva a Cultura!