Dez e meia da manhã e a sétima série está no recreio. Correria, gritaria, futebol, amarelinha, paqueras, brigas e outras ocupações infanto-juvenis. Um CIEP em Nova Campinas, terceiro distrito de Duque de Caxias. Um grupo de crianças brinca próximo à entrada do refeitório. Uma menina liga o MP3 do seu celular e coloca uma música. Um funk. A mistura de sonoridade é grande, incluindo o som do MSN e a chamada da rede Globo. A música rola e o grupo de sete crianças vibra. Rebola pra lá, dançinha pra cá… A música fala “olha o passinho do frevo com o funk”. O frevo, dança de origem popular em Pernambuco, encontra o funk carioca em determinado ponto do espaço-tempo. A galera gostou!

Meninos e meninas dançam e chegam mais crianças. Um menino negro, magrinho e com dentes tortos é o que mais se destaca. Faz uma seqüência de movimentos rápidos com os pés, indo para frente e para trás, de um lado para o outro e de cima para baixo, com harmonia e precisão cirúrgica. Alguns tentam acompanhar e outros apenas apreciam a apresentação. Quem é ele? O Viramundo? Ele sabe que está mandando bem, que todos estão olhando. É a sua Glória. Um garoto puxa seu celular e começa a filmar. Busca o melhor ângulo, a melhor luz e dá um zoom nos pés rápidos do garoto que está dançando frevo com funk. Outros meninos olham atentamente a dança e ensaiam os primeiros passos. É assim, é assado, dizem os que já sabem para os que querem apreender. Realmente, a hora do recreio é o melhor da escola.

Trrrrrimmm!!! Tocou o sinal. Deixam acabar a última música e começam a subir para as salas. O garoto negro com dentes tortos está ofegante e suado. Foi a atração do recreio. O ponto alto do seu dia e talvez de sua semana. A garota que colocou a música disse que ia baixar outras na internet e no dia seguinte traria para a galera ouvir. Enquanto subiam as rampas o garoto que filmou passava o vídeo por Bluetooth para uma menina. Disseram que iam postar no Orkut. Ao chegarem à sala de aula, agitados e com celulares na mão, a professora esbravejou:

– Podem desligar os celulares! Não quero celulares em minhas aulas. Nem sei por que vocês têm essas coisas. Celular é para adultos. Arrumem as fileiras. Não quero ninguém falando. Vou passar um questionário e vai valer ponto. Crianças com celular… É mole!?

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[Henrique Silveira]
henriquefebf@hotmail.com


Henrique Silveira

Henrique Silveira é geógrafo e mestre em Comunicação e Cultura pela UERJ/FEBF. É o Coordenador Executivo da Casa Fluminense.

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2 thoughts on “É mole?!

  1. É, como podemos usar celulares na aula? Nas minhas, pelo menos, quando ouço uma música tocando, repito: “Desligue o celular ou ponha o fonezinho!” Já tem alunos que, há alguns anos comigo, repetem a frase sem eu precisar falar… Conservador, não? 🙁

  2. huahsuahsuahsua
    É molé?
    Sacanagem! Ficam criticando os professores conservadores que não usam as novas tecnologias em sala de aula e talz…. Mas, por um acaso alguém sabe usar tais tecnologias numa aula? Como é que faz? Dá uma pista para os professores de sétima serie… Vc não é o malandro da tecnologia? Fala como faz…

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