Nosso filme, Donana, tem mais uma projeção no mês das mães. Organizado pela mamãe Dani Francisco, o projeto “Território Baixada” trouxe, no dia 7 de maio, o debate “Planos cinematográficos entre outras trilhas”. Mediado por Diego Bion, coordenador do Cineclube Buraco do Getúlio, o debate teve participação minha, de Paulo China e Getulio Ribeiro. Após todos se apresentarem, foram abertas questões ao público, que repercutiu a conversa em torno das dificuldades e facilidades para fazer cinema hoje.

China é diretor de “Praça do Skate”. Ótimo filme, que aborda a construção da primeira rampa de Skate da America Latina. Essa Rampa foi construída em Nova Iguaçu. E colocou a Baixada Fluminense numa importante posição em relação ao esporte, um dos principais elementos da cultura urbana do século XX. Getúlio é diretor do filme “O Dia Que a Terra Não Acabou”. Um filme que mistura ficção com documentário e apresenta Marcelo Peregrino, uma figura emblemática da Baixada, que já ganhou até um Prêmio de Melhor Ator por sua interpretação nesse filme.

O papo iniciou com China contando a história de sua mãe, que era bóia-fria. Ela mudou de vida e veio morar no Rio, em busca de novas possibilidades para família. A Baixada Fluminense, como qualquer periferia, tem tradição reconhecida, dentro e fora de seu território, por ser um lugar propício à criatividade. Seja para música, como é abordada no filme Donana; seja para outras artes; seja para o trabalho. A pobreza, constantemente retratada nos meios de comunicação, nunca foi uma barreira à alegria.

A plateia estava lotada. Muita gente era do EJA, Educação de Jovens e Adultos. Interessante a relação deles com a professora de arte, que também estava presente. Esse carinho faz lembrar as relações em meu bairro. Um copo de açúcar, um emprego para um vizinho. É muito comum observar moradores da Baixada se desdobrando para conquistar objetivos. Uma banda que usa o sofá como bateria. Um violão largado, sujo de cimento, que substitui uma guitarra. São iniciativas criativas que com o passar do tempo se transformam em símbolos das vitórias. Talvez seria essa a resposta à pergunta: Quais as dificuldade e facilidades para fazer cinema hoje na Baixada Fluminense?

Tenho a impressão que se usarmos essa criatividade, esse tirar leite de pedra, em nossos filmes; traremos novos pontos de vista ao cinema brasileiro. Não necessariamente fazendo um contraponto ao que está posto, mas agregando valores à discussão. Contribuindo com a construção de uma nova memória da periferia. Mais diversa. Não bastaria acreditar que a mídia controla o sistema e não fazer nada além de reclamar. Seria necessário fazer parte desse sistema e contribuir ativamente com as mudanças necessárias. Vejo esse exemplo nos três filmes abordados aqui hoje.

Os skatistas de Nova Iguaçu poderiam ter ficado com os braços cruzados reclamando, mas ao contrário disso foram lá e fizeram a Primeira Rampa de Skate da América Latina. Os caras do Donana poderiam aceitar o fato de morarem no local mais violento do mundo, mas disseram não e mostraram que Belford Roxo é o local onde nasceram alguns dos principais expoentes da música popular brasileira. Quem quiser conferir, os três filmes desse texto estarão no Festival “Ver Cine”, 2º Festival de Cinema Brasileiro da Baixada Fluminense.
De 20/08 a 11/09 – Duque de Caxias, Mesquita e Seropédica – RJ – Brasil.
Info: www.vercine.com.br

Getulio Ribeiro, Cacau Amaral, Diego Bion, Paulo China. FOTO: Terreiro de Ideias
Getulio Ribeiro, Cacau Amaral, Diego Bion, Paulo China. FOTO: Terreiro de Ideias

Cacau Amaral

Cineasta brasileiro. Direção em 5X Favela; 1 Ano e 1 Dia; Cineclube Mate com Angu; Sociedade Musical Lira de Ouro; Programa Espelho e Aglomerado. http://cacauamaral.com/

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