Ampliar a participação popular direta nos governos é a única saída para a crise da democracia, ou seja, tornar nossa democracia mais democrática. Ou por outra: Transformar esse circo numa democracia de verdade.

A questão é que, com a evolução tecnológica deixa de ter lógica essa coisa de representante. Isso era do tempo em que as pessoas precisavam debater os assuntos numa única “ágora”. Obviamente só ia dar certo com pouca gente. Mas agora, em plenos anos 10, urnas eletrônicas chegam aos confins do Brasil, em cada cidadezinha pode-se encontrar caixas eletrônicos, loterias esportivas e lan houses. A verdade é que basta haver interesse político para que seja possível ampliar os mecanismos de transparência governamental (disponibilização + processamento + estudo e análise desse material), controle orçamental, iniciativa popular, divulgação, estudo e voto direto nas principais pautas em discussão, porque tecnologia pra isso já existe!!

Você ainda acredita que o povo não tem interesse nisso? Eu também não tenho interesse já que tudo o que eu posso fazer para influenciar a política do país é escolher entre o sujo e o mal lavado de quatro em quatro anos!

É possível criar maior envolvimento do povo com a vida política desde que sua participação seja fundamental de fato. Numa democracia de verdade a “autoridade” é o povo. Não existe isso do povo ficar estarrecido com certas decisões do congresso e não conseguir fazer nada (por exemplo, os aumentos de salários e benefícios dos parlamentares). Numa democracia de verdade não existe isso do Estado colocar a polícia para “conter os manifestantes”, aliás, numa democracia de verdade nem a passeata tem sentido, já que o povo não precisa de todo esse esforço para ser ouvido.

Seria bem interessante votarmos todos juntos nas grandes questões nacionais atuais, como a Reforma Política, o novo Código Florestal, a tão desejada Reforma Agrária, o novo Código Penal, a Lei Geral da Copa, a divisão dos lucros do pré-sal, como lidar com a questão das drogas, o marco civil da internet, a criminalização da homofobia, o casamento gay, além, é claro, os salários e benefícios de cada cargo político e o direcionamento do orçamento público (como é o caso do orçamento participativo), entre muitas outras coisas. Sendo cada item amplamente debatido e estudado, com espaço de propaganda e argumentação de igual tamanho para as partes. Isso obviamente derrubaria vários “barões” que sugam o Brasil há décadas, jogaria a responsabilidade das decisões para quem é de direito e dever – o povo. São temas importantes demais para deixarmos nas mãos dos políticos, não acham? O povo poderia até fazer péssimas escolhas, mas pelo menos elas representariam a cultura, o juízo de valores daquele país naquele momento e isso, no mínimo, tornaria as leis mais legítimas.

Tô aqui quebrando a cabeça para encontrar um único aspecto positivo da Democracia Representativa! Algo que se possa dizer: “essa tal coisa maravilhosa só acontece graças a Democracia Indireta”. No que ela é boa pra sociedade?

Nossa, só consigo ver coisa contra: antes de mais nada – o alto custo da máquina do Estado, a desmesurada corrupção, a carreira política como um grande negócio, a “representocracia”, a desesperada luta pela manutenção do poder, a manutenção da desigualdade social – uma casta de dirigentes e outra de dirigidos, a criação de uma rede de corruptores – grandes empresas – que amarra qualquer político bem intencionado e é quem realmente pega as rédeas do controle político do país, tornando natural – e até necessário, crimes como fisiologismos, peculatos, subornos, clientelismos e tráficos de influência… E também não podemos esquecer que Hitler e Getúlio chegaram ao poder através de nosso querido sufrágio universal, para “representar seu povo”.

Mas talvez o maior efeito colateral da representatividade seja a criação de cidadãos apáticos e alienados politicamente. A transferência da responsabilidade com “a coisa pública” para quem for “autoridade”. “O Poder é para especialistas”: Eis a raiz de todos os males.

Pra encerrar, gostaria de lembrar que atualmente não importa o tipo de democracia: a mídia e a escola têm um papel fundamental na imposição de valores, desejos, códigos morais e modo de vida em geral. Portanto, a decisão das urnas está estreitamente relacionada a estas instituições. Não é possível pensar em uma verdadeira mudança política e social sem repensar e reestruturar estes dois enormes gigantes.


Paulo Mainhard

Paulo Mainhard não sabe quem é. Se tiver alguma informação, por favor nos avise.

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