Gênese

Era madrugada de um sábado, dia em que até as divindades procuram descansar, e eu ainda rodava o bairro atrás de uma saideira. Depois de fechar o Bar do Silva, o Monserrat, a Vendinha e o Bar do Noel, acabei parando no mais anódino e sem graça reduto dos bebuns: a conveniência de posto de gasolina.
No interior da loja, Heraldo HB estava absorto em seus pensamentos quando o abordei – provavelmente interrompendo o início da criação de um grande projeto cultural – com a ideia de escrever uma coluna no Lurdinha.org, resgatando a escrita sem emoji e com mais de 140 caracteres, em detrimento dos reels, shorts, snaps e stories.
Nesse ponto, já concordávamos que o objetivo era a pura e simples narrativa dos rituais da vida comum, observados profusamente dos balcões dos bares e butiquins da cidade, além de recomendações não muito óbvias do que se fazer e de crônicas das mais variadas – tudo isso apenas com o diploma fictício dado pela internet, que transformou todo mundo em jornalista.
Em pouquíssimo tempo, estabelecemos métricas próprias, das quais algumas eu já não me lembro, mas Flanar e Anotar me parece um bom resumo de tudo o que conversamos, porque foi exatamente o que comecei a fazer no dia seguinte, finalizando a primeira semana com um pequeno caderno cheio de ideias e uma azia tremenda dada a frequência mais que habitual nos estabelecimentos durante esse período.
Um mês depois, está aqui publicada essa gênese, da qual tenho orgulho e nunca me esquecerei – assim como o impacto de quando conheci o trabalho do Heraldo HB.
Meus eternos agradecimentos.