Ameno Ácido, de Marcelo Peregrino, um disco a la LongPlay
A primeira impressão ao ouvir o recém-lançado disco Ameno Ácido, de Marcelo Peregrino, foi lembrar de uma sacada do amigo, também músico, Beto Gaspari. Segundo Beto, a era mp3 enfraqueceu muito a ideia do disco como um conjunto, com um conceito a ser usufruído no mesmo pacote. Lembrei disso porque Ameno Ácido é isso, primeiramente, com precisão: um disco bem amarradinho, um climão sustentado numa eficiente cozinha sonora e num repertório que dialoga muito entre si, com uma certa unidade, um digital com gosto do bom e velho LP. O que não deve ter sido fácil em se tratando de um cara que compõe bastante e joga bem em várias vertentes.
Portanto, desde a certeira escolha das músicas até o tratamento musical dado ao trabalho, o que se ouve ali é um disco feito com apuro, com tesão e com cuidado em cada detalhe, com destaque para o diálogo das cordas, guitarras e violões, e o auxílio luxurioso de Maurício Galo nos sopros. Aliás, já de cara, na primeira música, O Véio Riu, o trompete já manda o recado.
Outro destaque digno de nota é o apuro em relação às letras das canções. Seja com a parceria ponta-firme com o poeta Rogério Mansera, seja em produção solo, as músicas mandam o recado muito bem, com capricho de imagens poéticas e rítmicas. A letra de Cantando no Mercado, por exemplo, é primorosa e mostra uma maturidade na seara da composição; “se permitir a diferença / mesmo que a vitrine diga o contrário / na hora da sede o tipo de garrafa pouco conta”.
Algaravia, Caminho de Ferro e Eu e Deus, dão um toque lírico e cortante ao disco, canções com assinatura melódica e marcação certeira, consciente, de timbre e cadência.
Já o Rock Nagô e Pulo no Futuro, são da cota das músicas mais conhecidas de Peregrino, dessas que já são cantaroladas em várias rodas musicais por aí. Aliás, Rock Nagô é uma sacada muito legal: “Louisiana tem saravá / assim como no Afonjá / Tenesse Madureira iaiá / olha o jeito nas cadeiras que Elvis sabe dar...”. Pulo no Futuro é uma parceria com Rogério Mansera e tem um clip bem bacaninha na versão acústica, feito pelo Diego Bion e Getúlio Ribeiro, respectivamente do Buraco do Getúlio e Por Que Não Filmes.
É isso, então: o resultado é um trabalho que dá gosto de ouvir e de saber que o selo Pirão Discos tem caminhado cada vez mais no sentido de registrar uma cena musical de grande densidade que tem se configurado na região da Baixada Fluminense.
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Aqui tem um link para ouvir o disco inteiro: https://soundcloud.com/marcelo-peregrino/sets/amenoacido
Não sei como está sendo a venda da versão impressa, mas fiz questão de comprar o meu direto com o cabra, que pode ser encontrado facilmente nas redes sociais.
Link da Pirão Discos: http://piraodiscos.blogspot.com.br/
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