“Jonathas quem?” e o poder dos “Reis” – uma pequena avaliação da eleição 2024 em Caxias
Jonathas Rego Monteiro Porto Neto é o novo prefeito eleito de Duque de Caxias. Tendo a crer que a maioria das pessoas que lhe deram os 243.850 votos sequer sabe seu nome. O que pesou nessa eleição foi seu sobrenome “Reis”, que ele sequer tem. O que, então, justifica a vitória já em primeiro turno de um candidato desconhecido, que nunca teve cargo público?
Netinho Reis foi o nome escolhido para a candidatura do sobrinho do ex-prefeito e atual secretário estadual de transportes, Washington Reis, que já possui um irmão vereador, um deputado estadual, um deputado federal, e o tio no cargo de prefeito da cidade. Com tantos quadros na família, escolher um jovem desconhecido parecia ser uma aposta arriscada, mas praticamente todos os atuais vereadores apoiaram a chapa, composta com a esposa do Deputado Federal Áureo, que apoia Washington Reis desde o segundo turno da eleição de 2016.
O único vereador que não apoiou Netinho foi o atual presidente da Câmara, Celso do Alba, que também se candidatou a prefeito pelo União Brasil, mas ficou em terceiro lugar, com 12,50% dos votos, não conseguindo repetir em Caxias a boa atuação do partido na cidade vizinha, Belford Roxo. Lá, Márcio Canela conseguiu 62,88% dos votos válidos e venceu em primeiro turno, derrotando o sobrinho do atual prefeito, Waguinho, que parece ter traçado a mesma estratégia do Washington Reis, mas não logrou o mesmo sucesso. Celso do Alba também não conseguiu repetir a atuação de seu vice na chapa, Marcelo Dino, que na eleição de 2020 ficou em segundo lugar, com 71.335 votos. Em 2024, a chapa obteve 56.352 votos.
A grande surpresa foi a derrota já no primeiro turno do ex-prefeito e ex “Rei da Baixada”, Zito, que até o início da campanha era o favorito. Aparentemente a imagem do prefeito que deixou a cidade debaixo do lixo ainda não fora superada pela população, mesmo ele conseguindo vincular em seu programa de TV um vídeo do Washington Reis declarando que ele tinha sido boicotado naquela ocasião. Zito teve o apoio de boa parte dos servidores públicos municipais, que amargam 8 anos sem reajuste salarial sob a gestão da família Reis, mas pesquisas indicavam que tinha uma grande rejeição, seguido do próprio Netinho e, depois, do Wesley Teixeira, cuja rejeição só pode ser explicada de forma ideológica, por ser sua primeira eleição majoritária, depois de ter alcançado pouco mais de 19 mil votos para deputado estadual em 2022, estando como primeiro suplente do PSB. Boa parte do eleitorado municipal, bem como em toda Baixada Fluminense, é evangélico, conservador, e garantiu uma expressiva votação ao ex-presidente Jair Bolsonaro no último pleito, que entrou na campanha do Netinho, tendo vindo pessoalmente a Caxias em duas ocasiões. Wesley, mesmo sendo filho de pastores, foi reconhecido como o candidato da esquerda, assim como o Zito, que esse ano se coligou com o PT do Presidente Lula. O tempo de TV também foi um prejudicial para ambos, pois enquanto o programa do Netinho tinha quase 7 minutos, o do Wesley, por exemplo, tinha pouco mais de 40 segundos.
Wesley também não conseguiu transferir seus 23.329 votos para a nominata de vereadores. O PSOL teve 6.372 votos, o PSB, 2.416, e a REDE, apenas 430, totalizando 9218 votos para a federação, o que não garantiu nenhum vereador na Câmara. A candidata Rose Cipriano teve uma votação expressiva, 4.455 votos, mas mais uma vez ficou de fora da Câmara por causa do quociente eleitoral. A segunda mais votada, Ivanete, que foi candidata a prefeita pelo PSOL em 2012 e em 2020, conseguiu apenas 808 votos, seguida da Leninha, a primeira candidata a prefeita do partido, em 2008, que este ano conseguiu exatos 100 votos.
Sem o uso da máquina, sem tempo de rádio e TV, e sem o poder econômico expressivo demonstrado nessas eleições, a esquerda sai prejudicada com este modelo vigente de pleito, que favorece não quem tem as melhores propostas, ideias ou experiência, mas sim quem tem mais dinheiro para gastar em campanha.
