Pitacolândia: a força da História na vanguarda da Baixada

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Para quem não ficou sabendo (e é incrível como quase não ficamos sabendo sobre o que acontece nos município vizinhos a Duque de Caxias) faleceu no mês passado o historiador, advogado e arqueólogo Ney Alberto, um dos grandes nomes da cultura na Baixada Fluminense, e um dos craques no time responsável por levantar a bola da região nos últimos anos.

Sua morte, além de fato lamentável em si, levanta considerações importante sobre a Baixada, e em especial no território da política cultural dessa terra. Por exemplo, faz lembrar de muita gente guerreira e algumas ações fundamentais para a Cultura, responsáveis por não deixar que a memória local fosse apagada pelas burocracias, miopias e desinteresses dos poderes constituídos.

Pessoas como Rogério Torres, Armando Valente e Guilherme Peres nos anos 80 nas páginas de jornais e revistas da região; publicações como o site do IPAHB; revistas como a Hidra de Iguassu e a nossa querida Pilares da História, foram (e algumas ainda são) veículos que não deixaram silenciar um passado vital para se entender o que aconteceu por aqui e que caminhos podemos seguir para uma Baixada mais humanizada.

Durante a década de 90, uma geração de professores, pesquisadores e alunos começava a sistematizar e levantar a rica história da região com um olhar de transformação e apontamento de futuro, e completou essa onda. A criação da APPH-Clio, Associação de Professores e Pesquisadores de História, ligada à Feuduc, e a reformulação completa do Instituto Histórico Vereador Thomé Siqueira Barreto são marcantes e decisivos. E mostraram que estudar a História da região é bom, mas não dá para sentir saudade das épocas dos laranjais, cafezais e seus barões, cujos descendentes ainda assombram os gabinetes oficiais.

Junto com o início da popularização da Internet na virada do século, foi justamente o movimento de historiadores que esteve na vanguarda dessa transformação imagética que a Baixada vem vivendo, nas tentativas sucessivas de apagar ou ao menos minimizar o peso das décadas de estigma da violência e abandono.

E essa reflexão sobre História pega Duque de Caxias em um momento muito especial, a propósito: massacrada por décadas de pistolagem naturalizada, pilantragem deliberada e política acéfala, há um sentimento de mudança no ar que certamente vai fazer nascer uma cidade mais humana e menos caricata e cruel. Se bem que a esperança quase morre ao olhar para a classe política atual…

Que o professor Ney Alberto descanse em paz e que a História e Cultura tenham o respeito de fato que merecem na região.

 

Professor Ney Alberto foto: Josy Antunes
Professor Ney Alberto em foto de Josy Antunes (http://www.flickr.com/photos/culturani)

heraldo hb

. Animador cultural, escritor e produtor audiovisual nascido no século XX. .

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