O Repente, gênero lítero-musical em que o autor improvisa em público versos e melodias, é uma manifestação da cultura popular brasileira.

Este se distingue de outros gêneros literários que necessitam de elaboração prévia, artesanal, dos seus criadores, posto que, nele não existe a preocupação com o registro, sendo assim, a voz do poeta o melhor veículo de divulgação.

A enunciação da Cantoria ocorre, tradicionalmente, pela voz de uma dupla de cantadores, que não raro formam parcerias que chega a durar anos, afora a rotatividade requerida por desafios ocasionais.

Infalível é ainda o apoio instrumental com que todo cantador acompanha a si mesmo. Para tal função, predominaram ao longo do século XX a viola sertaneja e, mais tardiamente, o violão; a festejada figura do sanfoneiro, tão comum na música nordestina, é exceção entre os cantadores.

Por outro lado, até o século XIX, os indícios apontam para o predomínio absoluto da extinta rabeca, em todas as épocas e lugares, o acompanhamento pelo pandeiro, que chega a ser regra na Embolada, subgênero da família do Repente.

Ao ver de Câmara Cascudo os desafios através do canto são primordialmente originários da cultura grega, posteriormente alastrando-se pela Europa e na seqüência chegou ao oriente por meio dos árabes.

Outro autor , se refere a poesia européia da idade média como reflexo primeiramente da influência árabe, no Brasil a cantoria de improviso surgiu no nordeste, tendo tal região do país sido responsável por grande parte do tráfico escravo, sendo palco na época de quilombos como Palmares.

A partir desse dado, entre outros, vê-se a possibilidade do repente, assim como o rap, estar mais próximos de uma origem africana do que européia.

Baseada em pressupostos da tradição, a cantoria nordestina desenvolveu-se como uma expressão marginalizada.

Em princípio, produzida por indivíduos depreciados pela sociedade, a cantoria acontecia basicamente no meio rural, em sítios, fazendas, e não parecia “elegante” gostar desse gênero, uma vez que era elaborada e direcionada a um grupo minoritário.

Quanto às técnicas de improvisação verbal, o Repente apresenta uma riqueza vertiginosa de esquemas de metros e rimas cuja obediência rigorosa é condição imprescindível para o reconhecimento da competência do cantador e de sua arte.

A derrota em uma Peleja ou Desafio, decretada pelo júri ou pelo senso comum dos espectadores, costuma vir associada a critérios muito sutis, e por vezes até subjetivos.

Os esquemas de metros e rimas de tais gêneros poéticos populares, atualmente ainda ignorados pela cultura formal, têm sua estrutura reconhecida por um público que, distante das escolas, encontra em sua tradição cultural os ensinamentos necessários à apreciação dessa arte oral em todo o seu refinamento e complexidade.

Já o rap pode ser considerado a trilha sonora do hip-hop.

O Hip Hop é um movimento de cultura juvenil que surgiu nos Estados Unidos, nos últimos anos da década de 1960. Mais especificamente surgido no distrito do Bronx, em Nova Iorque, seu desenvolvimento deu-se a partir da iniciativa de jovens afro-americanos – como DJ Afrika Bambaataa – e caribenhos – como DJ Kool Herc – como uma forma de expressão cultural.

Esses primeiros jovens a desenvolver tal feito eram fortemente influenciados pela situação local vigente, que era de desemprego, crise de industrialização e aumento da violência .

O espaço onde a manifestação acontecia era a rua:

Os guetos de Nova Iorque dos anos 60/70 foram o local do surgimento de contingentes juvenis não-brancos reunindo-se para falar, cantar, desenhar e dançar suas criações a partir dos resíduos tecnológicos da cidade e de suas experiências de vida.

Esses eventos de rua (que futuramente viria a ser batizado de hip-hop) eram marcados pela presença de uma vasta diversidade de pessoas, os eventuais encontros eram abertos para diferentes grupos que se identificavam com aquele tipo de manifestação. Entre os freqüentadores destas festas de rua, haviam integrantes de gangues formadas por jovens moradores dos subúrbios.

Para quem curte relembrar os velhos tempos…. Mais um som que curti bastante nas danceterias desta época…..

Afrika Bambaataa é o pseudônimo de Kevin Donovan (Bronx, Nova York, 19 de abril de 1957) é um DJ estado-unidense e líder da Zulu Nation, reconhecido como fundador oficial do Hip Hop.

Nasceu e foi criado no Bronx e, quando jovem, fazia parte de uma gangue chamada Black Spades (Espadas Negras, em português), mas viu que as brigas entre as gangues não levariam a lugar nenhum.

Muitos dos membros originais da Zulu Nation também faziam parte da Black Spades, que era uma das maiores e mais temidas gangues de Nova York. Bambaataa se utilizou de muitas gravações já existentes de diferentes tipos de música para criar Raps.

Usando sons, que iam desde James Brown (o pai do Funk) até o som eletrônico da música “Trans-Europe Express” (da banda européia Kraftwerk), e misturando ao canto falado trazido pelo DJ jamaicano Kool Herc, Bambaataa criou um clássico.

Bambaataa também foi um dos líderes do Movimento Libertem James Brown, criado quando o mestre da Soul Music estava preso e, anos depois, foi o primeiro ‘Hip-Hopper’ a trabalhar com James Brown, gravando “Peace, Love & Unity”.

Bambaataa criou as bases para surgimento do Miami Bass, Freestyle (gênero musical), ritmos que infuênciaram o Funk Carioca.

A fim de transformar a violência das gangues em disputas sadias e positivas, o DJ Afrika Bambaataaa – um dos principais organizadores das festas de rua – passou a organizar tais festas objetivando converter as “rixas” desses grupos de jovens em duelos que envolviam quatro modalidades diferentes – porém relacionadas – de manifestações artísticas: o Mc, o DJ, o break dance e o grafite, que anteriormente era utilizado para as gangues demarcarem território, que no contexto do hip-hop passa a ser a sua representação em forma artes plásticas.

A fim de dar sustentação e suporte aos quatro elementos do novo movimento cultural, Bambaataa batiza tal fenômeno de hip-hop (em português: movimentar os quadris), um pouco depois, juntamente com a Zulu Nation criou o quinto elemento: o conhecimento.

O hip-hop apresenta uma confusão em suas origens devido ao fato de ser um corpo artístico/político/social simultaneamente, que ora é posto como um movimento, ora como uma cultura, sua movimentação acontece ás beiras dos grandes sistemas formais.

No âmbito dos estudos sociais e antropológicos o hip-hop é compreendido como manifestação artístico/política de um momento de transição da metrópole nova iorquina. Já seus praticantes, que o transformaram em filosofia de vida o conceituam como cultura de rua, cuja estrutura é baseada em quatro elementos:

DJ (Disc Jóquei – aquele que seleciona, executa e mistura as músicas nas festas), B.boy (Breaking Boy – aquele que dança), MC (Mestre de Cerimônia – aquele que faz as letras de rap e as rimas de improviso em cima das músicas instrumentais executadas pelos DJ’s), Grafite (Artes Plásticas – aquele que faz os desenhos e símbolos), além é claro, do já supra-citado, conhecimento.

A fusão entre o MC e o DJ deu origem ao Rap (Rythm and Poetry), em português Ritmo e Poesia , o rap pode ser ou não o pilar central do hip-hop e esse estilo musical usa a forma básica de expressão: a voz.

Na sua essência original, a voz permanece praticamente numa mesma nota, trata-se de uma manifestação da linguagem falada incorporada a uma melodia que trabalha uma base rítmica repetitiva. Utilizando-se de sintetizadores, baterias eletrônicas e recortes de músicas antigas remixadas e reinventadas, trás crônicas dos habitantes de um determinado grupo social.

Antes mesmo de ganhar forma e personalidade através do fenômeno hip-hop, práticas precursoras do rap já aconteciam há muito tempo atrás em outros lugares do mundo.

A oralidade do rap é originária do canto falado da África ocidental, após a chegada dos escravos negros em todo continente americano, foi adaptado à música jamaicana da década de 1950 e por último, chegou aos Estados unidos da America através dos imigrantes latino-americanos, sendo essa prática influenciada pela cultura negra dos guetos nova iorquinos no período pós-guerra, até então ganhar formato próprio e ser denominado como Rap .

A modalidade de rap que daremos atenção é o FreeStyle ou estilo livre, espécie de poesia oral baseada no desafio e improviso. O mesmo mecanismo pode ser observado e encontrado no repente nacional.

Tanto aqueles que fazem rap, bem como o repente, se expressam através do canto improvisado com base nas vivências e no conhecimento que eles tem da própria realidade, eles vivenciam os fatos históricos, sociais, econômicos e políticos, os quais, através da emoção e da imaginação, recriam esse real em forma de versos.

Menciono em meu trabalho sobre o repente e o cururu, uma característica em comum entre essas duas modalidades de cantoria de improviso, “todo o evento gira em torno de dois oponentes, cujas armas consistem no canto, no humor, na palavra, e no qual um procura derrotar o outro diante de uma platéia”.

Embora a relação estabelecida tenha sido entre o repente e o cururu, o mesmo tipo de característica é fundamental e indispensável nas batalhas de rap.

Em relação as origens, principalmente no repente, nota-se a confusão e a fusão de diversas culturas, o que torna inútil tentar especificar ou detalhar sua origem.

Nesse sentido, mais importante do que definir de modo exato como tudo começou, é considerar a onipresença da voz nas mais diversas culturas. Partindo desse princípio, buscar o detalhamento das supostas origens do canto de improviso de desafio parece nulo a medida que tal espécie de produção cultural surge do entrelaçamento de diversas influências.

Pode-se dizer que o canto de improviso é em geral uma manifestação da cultura popular, que pode ser entendida como uma forma de classificar pensamentos e ações das populações mais pobres de uma sociedade, é a cultura da classe desfavorecida, que não detém poder.

A cultura popular é sempre pensada em relação á cultura erudita, chamada também de alta cultura, associada às classes dominantes.

O repente numa posição de resistência, ainda tem a sua poesia marginalizada, considerada pela alta cultura como rude e grosseira, devido ao fato de não zelar por um nível vocabular erudito, possui uma síntese particular e seus agentes são, na verdade, o próprio povo.

No caso do rap não é nada diferente já que basicamente ele se insere nos espaços urbanos marginalizados, segregados etnicamente e sócio economicamente.

As características do rap improvisado de desafio, evidencia o seu caráter de poesia oral, bem como a sua capacidade de construção de uma linguagem poética, depositando na palavra uma força de criação e formação de sentido.

A relação entre o rap e o repente vem instigando debates nas mais diversas atmosferas, a ponto de já se registrar congressos, como por exemplo o REP RAP: Encontro Nacional de Rappers e Repentistas que fui convidado pra ir mais fui Boicotado, ocorrido em Campina Grande no ano de 2007.

Por esses e outros motivos que a relação entre o rap e o repente vão se tornando cada vez mais próximas.


slowdabf

Slow Da Bf é Mestre de Cerimônias - Blogueiro - Poeta e Grafiteiro . Escreve no www.tododiaumtextonovo.blogspot.com e faz parte do Mate Com Angu Cineclube - Cinema Para Todos - Universal Zulu Nation

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7 thoughts on “o rap e o repente

  1. Bom texto, Slow. A produtora de video Página 21 de Recife (do meu amigo Amaro Filho) está finalizando um documentario sobre a “Arte do Improviso” onde mapeia o tema de norte a sul do Brasil (incluindo o partido alto carioca e os pajadores do Rio Grande do Sul). Vale a pena conhecer.
    Abraço!!

    1. Caraca, Egeu! Que notícia boa! Como faço pra estar acompanhando isso?
      Eu sou absolutamente fascinado pelas “artes do improviso” – gostei da expressão.
      Repentistas, emboladores, rappers, versadores de partido… Show!

      E valeu pelo texto, Slow! Yeah!

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