Jogatina, Hotéis e Prostituição em Duque de Caxias

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Em 1946, logo após assumir a presidente, Dutra proibiu o jogo na capital mas a repressão não foi tão eficiente em Duque de Caxias. Muitos que utilizavam as roletas no Rio de Janeiro, recorreram aos espaços existentes na cidade. Um destes cassinos localizava-se na Rua Manoel Telles e tinha como proprietários o “João Bicheiro”.

Outro local de intensa jogatina era o “Bar e Bilhares Líder”, localizado após os atuais “Caxias Grill” e Fortaleza do Tenório. Situada praticamente em frente à temida Delegacia de Polícia 311 que deu lugar à “rodoviária velha”. Na “Líder” se misturavam jogadores, policiais, contraventores, políticos, pequenos marginais e prostitutas. Freqüentemente algumas disputas na mesa de bilhar terminavam em brigas e confusões.

Na rua Nunes Alves ainda existiam alguma casas onde se jogava sorrateiramente a “víspora”,atualmente chamado de bingo, o “jogo de dados”, o carteado com a “ronda”, a sueca e o buraco, muitas vezes com baralho viciado que levava os menos astutos a perderem boa parte do suado salário.

Como jogo e mulheres não se dissociam o prazer também era buscado nos mais de 22 hotéis que se espalhavam no trecho entre o Viaduto da Câmara e a rodoviária velha. Dos hotéis existentes na década de 50 ainda encontramos o Novo Hotel, o Bela Avenida, o Hotel Pará e o Avenida ainda em funcionamento. Este último está dentro da sugestiva “Galeria do Amor” onde, inusitadamente, está localizado o cartório que realiza os casamentos oficiais da cidade que enchem de lágrima as meninas que ainda se mantém na profissão.

No calçadão da Praça do Relógio existiam três hotéis. Mas à frente, próximo a entrada do Centenário, existia o Rio Petrópolis. Um dos mais luxuosos era o Hotel Municipal que chegou a hospedar personalidades da política brasileira e onde foi assinada a emancipação da cidade, hoje está em ruínas. Ficava na Presidente Kennedy um pouquinho depois da Igreja Santo Antonio.

Das diversas “meninas” que tinham nestes espaços a garantia de sobrevivência existiam aquelas relatadas por Santos Lemos em suas obras ou aquelas denunciadas pelos jornais que defendiam a moral e os bons costumes caxienses nas décadas de 50 e 60. De todas elas foi Maria FêNeMê que mais deixou marcas na cidade. Ela recebeu este nome por ter uma grande afinidade com os trabalhadores daquela fábrica de Xerém e que, depois da chegada da idade, passou a agenciar outras mais jovens.

É triste perceber que uma cidade que já possuiu vários hotéis, que atualmente é uma das que mais arrecadam impostos no país, que está muito próxima do Rio de Janeiro, que está no caminho para Petrópolis e que respira as novidades proporcionados pelos Olimpíadas e pela Copa do Mundo que se aproxima, ainda não conte com uma rede hoteleira em condições de receber visitantes e nem políticas públicas para este setor. Ah! Mas as meninas… Elas provavelmente estarão por aqui.


Alexandre Marques

Alexandre Marques é professor de História. Contato: alxmarques@ig.com.br

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2 thoughts on “Jogatina, Hotéis e Prostituição em Duque de Caxias

  1. Grande Alexandre… Belo texto.
    Essa referência as “meninas” me lembrou um texto que escrevi já faz algum tempo… Segue, em homenagem ao caos nosso de cada dia… 🙂 Abração

    O cheiro da madrugada

    Tem dias, em que a noite confunde a gente.
    O sujeito chega, puxa a mesa da bodega,
    se aconchega e, de repente,
    nem sabe mais por que águas a própria alma navega.

    E a lucidez segue assim em interminável refrega com a pobre da insensatez.

    O dia chega e diz não.

    A noite, sopra um talvez.

    Já a doida madrugada, feroz e destrambelhada, em completa embriaguez, diz: agora, meu amor.

    E as pernas entorpecidas se arvoram em merecida e lúdica caminhada.

    No meio da noite, a estrada, nem parece com a balbúrdia que se encontra de dia.

    É luz piscando nos olhos, botequins pelas esquinas, um certo ar de festejo, a boca aberta pro beijo, decotes, saias, meninas…

    O cheiro delas escorrendo pelo brilho das estrelas, tomando o cérebro inteiro e impregnando as narinas.

    A noite deveria ser algum tipo de canção dessas que nunca termina.

    Com acordes absolutos penetrando pelos tímpanos e se apossando do espírito

    ou algum tipo de verso majestoso e impenetrável.

    Algo assim inenarrável, um experimento empírico por sua essência, abstrato.

    E a madrugada, não o dia, deveria ser seu quarto para acomodar os partos insanos da poesia.

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