A Dama e a Estátua Solitária em Duque de Caxias

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Em 1930 Getúlio Vagas chegou ao poder interrompendo um longo período denominado de café-com-leite ou República dos Fazendeiros. No início de seu governo as chamadas “damas da boa sociedade” organizavam várias atividades de benemerências inaugurando o que se tornariam ações de Assistência Social. Ações populistas que cairiam no gosto das primeiras damas que, ocupando cargos nos governos municipais, estaduais e federal garantiam o apoio popular na eleições.

No início de seu governo as “damas”, lideradas por Dona Darcy Vargas, angariaram fundos para a construção de um abrigo para meninas. Pelo decreto 34.675 de 1942 o governo reservou uma enorme área do antigo Núcleo Colonial São Bento, para contruí-lo. As terras que lhe foram destinadas, assim como o abrigo, foram entregues à Fundação Darcy Vargas e, no governo Dutra, foram repassada à Fundação Cristo Redentor.

A Cidade das Meninas, construída no II Distrito de Duque de Caxias e próxima ao atual bairro do Pilar, deveria ter 60 pavilhões com capacidade para receber cerca de 6.000 meninas abandonadas ou de famílias muito pobres. Elas seriam educadas dentro de princípios morais, físicos, educativos e religiosos e aprenderiam a ser boas mães, boas esposas, cozinhar, costurar, tocar instrumentos musicais, cantar, e se portar à mesa. Alguns anos depois de sua inauguração o abrigo também passou a receber meninos para serem educados para o trabalho agrícola e artesanal.

Em 1950 o Instituto de Malariologia, mesmo com uma grande quantidade de crianças sobrevivendo no abrigo, instalou em seu terreno a Fábrica de BHC, um dos agrotóxicos mais utilizados para controlar a febre amarela. O produto já era proibido em vários países suspeito de provocar câncer. A fábrica funcionou até 1954 quando foi abandonada juntamente com seus dejetos químicos, que foram enterrados. Nas décadas seguintes as crianças e os funcionários que moravam na cidade foram fortemente contaminados.

Na década de 80 a Cidade dos Meninos ainda era administrada pela Fundação Cristo Redentor que também era responsável pelo abrigo de menores existente na sede da Fazenda São Bento, atual Casa de São Francisco. As constantes denúncias de poluição ambiental, as acusações de que seus resíduos provocam câncer ou o nascimento de crianças com problemas físicos e psicossociais, os registros de maus-tratos sofridos pelas crianças, levou ao seu fechamento e ao abandono dos produtos químicos que ali foram enterrados.

Atualmente entre os vários pavilhões abandonados, entre a Igreja de São Pedro e as casas dos antigos funcionários, existe a Estátua Solitária de uma dama, Dona Darcy Vargas, acompanhada por duas pequenas jovens. Desoladas contemplam o horizonte da belíssima e poluída região e, talvez, já vislumbrando os dias de angústia e de falta de ações do poder publico que estavam por vir. Se sabemos um pouco da região nada sabemos do artistas que esculpiram a estátua.
Darcy Vargas - Cidade das Meninas - Pilar - Duque de Caxias


Alexandre Marques

Alexandre Marques é professor de História. Contato: alxmarques@ig.com.br

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4 thoughts on “A Dama e a Estátua Solitária em Duque de Caxias

  1. Sempre passo fazendo minhas atividades físicas, pela estrada principal e sempre via esse monumento, em uma rua paralela, agora sim matei minha curiosidade

  2. Sempre passo fazendo minhas atividades físicas, pela estrada principal e sempre via esse monumento, em uma rua paralela, agora sim matei minha curiosidade.

  3. No último parágrafo, sugiro fazer as seguintes ressalvas:
    … entre a Igreja de Nossa Senhora da Conceição… acompanhada por duas crianças, uma menina e o pequeno jornaleiro…

    Att.

    Zeni

    1. Isso,minha saudosa diretora e educadora tia Zeni. Fui aluno deste belo lar e,depois também fui um Pequeno Jornaleiro.Eu me orgulho de tal privilégio. Aliás,morro de saudades,chego a sonhar com todos os cantos de cada pavilhão. É como se eu voltasse no tempo.Acordo saudoso e emocionado. Fato é que encontrei este Site.

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